Enquanto as reflexões dela se faziam audíveis para nós, irradiando-se
na sala estreita, vimos de novo a mesma figura de mulher
que surgira à frente de Jovino, aparecendo e reaparecendo ao
redor da esposa triste, como que a fustigar-lhe o coração com
invisíveis estiletes de angústia, porque Anésia acusava agora
indefinível mal-estar.
Não via com os olhos a estranha e indesejável visita, no entanto,
assinalava-lhe a presença em forma de incoercível tribulação
mental. De inesperado, passou da meditação pacífica a tempestuosos
pensamentos (...) À medida, porém, que Anésia monologava intimamente em
termos de revide, a imagem projetada de longe abeirava-se dela
com maior intensidade, como que a corporificar-se no ambiente
para infundir-lhe mais amplo mal-estar.
A mulher que empolgava o espírito de Jovino ali surgia agora
visivelmente materializada aos nossos olhos.
E as duas, assumindo a posição de francas inimigas, passaram
à contenda mental (...)
A esposa atormentada passou a sentir desagradáveis sensações
orgânicas.
O sangue afluía-lhe com abundância à cabeça, impondo-lhe
aflitiva tensão cerebral.
Quanto mais se lhe dilatavam os pensamentos de revolta e
amargura, mais se lhe avultava o desequilíbrio físico.
Teonília afagou-a, carinhosa, e informou ao nosso orientador:
– Há muitas semanas diariamente se repete o conflito. Temo
pela saúde de nossa companheira.
Áulus deu-se pressa em aplicar-lhe recursos magnéticos de alívio
e, desde então, as manifestações estranhas diminuíram até
completa cessação.
Efetivado o reajustamento relativo de Anésia e percebendo-nos
a curiosidade, o Assistente esclareceu:
– Jovino permanece atualmente sob imperiosa dominação telepática,
a que se rendeu facilmente, e, considerando-se que marido
e mulher respiram em regime de influência mútua, a atuação
que o nosso amigo vem sofrendo envolve Anésia, atingindo-a de
modo lastimável, porquanto a pobrezinha não tem sabido imunizar-se
com os benefícios do perdão incondicional.
Hilário, intrigado, perguntou:
– Examinamos, porém, um fenômeno comum?
– Intensamente generalizado. É a influenciação de almas encarnadas
entre si que, às vezes, alcança o clima de perigosa obsessão. Milhões de lares podem ser comparados a trincheiras de luta,
em que pensamentos guerreiam pensamentos, assumindo as mais
diversas formas de angústia e repulsão.
– E poderíamos enquadrar o assunto nos domínios da mediunidade?
– Perfeitamente, cabendo-nos acrescentar ainda que o fenômeno pertence à sintonia. Muitos processos de alienação mental
guardam nele as origens. Muitas vezes, dentro do mesmo lar, da
mesma família ou da mesma instituição, adversários ferrenhos do
passado se reencontram. Chamados pela Esfera Superior ao reajuste,
raramente conseguem superar a aversão de que se vêem
possuídos, uns à frente dos outros, e alimentam com paixão, no
imo de si mesmos, os raios tóxicos da antipatia que, concentrados,
se transformam em venenos magnéticos, suscetíveis de provocar a
enfermidade e a morte. Para isso, não será necessário que a perseguição
recíproca se expresse em contendas visíveis. Bastam as
vibrações silenciosas de crueldade e despeito, ódio e ciúme, violência
e desespero, as quais, alimentadas, de parte a parte, constituem
corrosivos destruidores.
Finda ligeira pausa, o Assistente continuou:
– O pensamento exterioriza-se e projeta-se, formando imagens
e sugestões que arremessa sobre os objetivos que se propõe
atingir. Quando benigno e edificante, ajusta-se às Leis que nos
regem, criando harmonia e felicidade, todavia, quando desequilibrado
e deprimente, estabelece aflição e ruína. A química mental
vive na base de todas as transformações, porque realmente evoluímos
em profunda comunhão telepática com todos aqueles encarnados
ou desencarnados que se afinam conosco.
LIVRO: NOS DOMÍNIOS DA MEDIUNIDADE, Cap. 19. Psicografado por Francisco Cândido Xavier/André Luiz. FEB.
*Grifos do Blog.
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