segunda-feira, 16 de abril de 2018

Mediunidade e Obsessão



Em mesa lautamente provida com fino conhaque, um rapaz, fumando com volúpia e sob o domínio de uma entidade digna de compaixão pelo aspecto repelente em que se mostrava, escrevia, escrevia, escrevia...

– Estudemos – recomendou o orientador.

 O cérebro do moço embebia-se em substância escura e pastosa que escorria das mãos do triste companheiro que o enlaçava.
Via-se-lhes a absoluta associação na autoria dos caracteres escritos.
A dupla em trabalho não nos registrou a presença.

– Neste instante – anunciou Áulus, atencioso –, nosso irmão desconhecido é hábil médium psicógrafo. Tem as células do pensamento integralmente controladas pelo infeliz cultivador de crueldade sob a nossa vista. Imanta-se-lhe à imaginação e lhe assimila as idéias, atendendo-lhe aos propósitos escusos, através dos princípios da indução magnética, de vez que o rapaz, desejando produzir páginas escabrosas, encontrou quem lhe fortaleça a mente e o ajude nesse mister.

Imprimindo à voz significativa expressão, ajuntou:

– Encontramos sempre o que procuramos ser.

Finda a breve pausa que nos compeliu à reflexão, Hilário recomeçou:

– Todavia, será ele um médium na acepção real do termo? Será peça ativa em agrupamento espírita comum?

– Não. Não está sob qualquer disciplina espiritualizante. É um moço de inteligência vivaz, sem maior experiência da vida, manejado por entidades perturbadoras.

Após inclinar-se alguns momentos sobre os dois, o instrutor elucidou com benevolência:

– Entre as excitações do álcool e do fumo que saboreiam juntos, pretendem provocar uma reportagem perniciosa, envolvendo uma família em duras aflições. Houve um homicídio, a cuja margem aparece a influência de certa jovem, aliada às múltiplas causas em que se formou o deplorável acontecimento, O rapaz que observamos, amigo de operoso lidador da imprensa, é de si mesmo dado à malícia e, com a antena mental ligada para os ângulos mais desagradáveis do problema, ao atender um pedido de colaboração do cronista que lhe é companheiro, encontrou, no caso de que hoje se encarrega, o concurso de ferrenho e viciado perseguidor da menina em foco, interessado em exagerar-lhe a participação na ocorrência, com o fim de martelar-lhe a mente apreensiva e arrojá-la aos abusos da mocidade...

– Mas como? – indagou Hilário, espantadiço.

O jornalista, de posse do comentário calunioso, será o veículo de informações tendenciosas ao público. A moça ver-se-á, de um instante para outro, exposta às mais desapiedadas apreciações, e decerto se perturbará, sobremaneira, de vez que não se acumpliciou com o mal, na forma em que se lhe define a colaboração no crime. O obsessor, usando calculadamente o rapaz com quem se afina, pretende alcançar o noticiário de sensação, para deprimir a vida moral dela e, com isso, amolecer-lhe o caráter, trazendo-a, se possível, ao charco vicioso em que ele jaz.

– E conseguirá? – insistiu meu colega, assombrado.

– Quem sabe? E, algo triste, o orientador acrescentou:

Naturalmente a jovem teria escolhido o gênero de provações que atravessa, dispondo-se a lutar, com valor, contra as tentações.

– E se não puder combater com a força precisa?

Será mais justo “dizer se não quiser”, porque a Lei não nos confia problemas de trabalho superiores à nossa capacidade de solução. Assim, pois, caso não delibere guerrear a influência destrutiva, demorar-se-á por muito tempo nas perturbações a que já se encontra ligada em princípio.

LIVRO: NOS DOMÍNIOS DA MEDIUNIDADE, Cap. 15. Psicografado por Francisco Cândido Xavier/André Luiz. FEB.

*Grifos do Blog

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