Em mesa lautamente provida com
fino conhaque, um rapaz, fumando com volúpia e sob o domínio de uma entidade
digna de compaixão pelo aspecto repelente em que se mostrava, escrevia,
escrevia, escrevia...
– Estudemos – recomendou o
orientador.
O cérebro do moço embebia-se em substância
escura e pastosa que escorria das mãos do triste companheiro que o enlaçava.
Via-se-lhes a absoluta
associação na autoria dos caracteres escritos.
A dupla em trabalho não nos
registrou a presença.
– Neste instante – anunciou
Áulus, atencioso –, nosso irmão desconhecido é hábil médium psicógrafo. Tem as
células do pensamento integralmente controladas pelo infeliz cultivador de
crueldade sob a nossa vista. Imanta-se-lhe à imaginação e lhe assimila as
idéias, atendendo-lhe aos propósitos escusos, através dos princípios da indução
magnética, de vez que o rapaz, desejando produzir páginas escabrosas, encontrou
quem lhe fortaleça a mente e o ajude nesse mister.
Imprimindo à voz significativa
expressão, ajuntou:
– Encontramos sempre o que
procuramos ser.
Finda a breve pausa que nos
compeliu à reflexão, Hilário recomeçou:
– Todavia, será ele um médium
na acepção real do termo? Será peça ativa em agrupamento espírita comum?
– Não. Não está sob qualquer
disciplina espiritualizante. É um moço de inteligência vivaz, sem maior
experiência da vida, manejado por entidades perturbadoras.
Após inclinar-se alguns
momentos sobre os dois, o instrutor elucidou com benevolência:
– Entre as excitações do
álcool e do fumo que saboreiam juntos, pretendem provocar uma reportagem
perniciosa, envolvendo uma família em duras aflições. Houve um homicídio, a
cuja margem aparece a influência de certa jovem, aliada às múltiplas causas em
que se formou o deplorável acontecimento, O rapaz que observamos, amigo de
operoso lidador da imprensa, é de si mesmo dado à malícia e, com a antena
mental ligada para os ângulos mais desagradáveis do problema, ao atender um
pedido de colaboração do cronista que lhe é companheiro, encontrou, no caso de
que hoje se encarrega, o concurso de ferrenho e viciado perseguidor da menina
em foco, interessado em exagerar-lhe a participação na ocorrência, com o fim de
martelar-lhe a mente apreensiva e arrojá-la aos abusos da mocidade...
– Mas como? – indagou Hilário,
espantadiço.
– O jornalista, de posse do comentário
calunioso, será o veículo de informações tendenciosas ao público. A moça
ver-se-á, de um instante para outro, exposta às mais desapiedadas apreciações,
e decerto se perturbará, sobremaneira, de vez que não se acumpliciou com o mal,
na forma em que se lhe define a colaboração no crime. O obsessor, usando
calculadamente o rapaz com quem se afina, pretende alcançar o noticiário de
sensação, para deprimir a vida moral dela e, com isso, amolecer-lhe o caráter,
trazendo-a, se possível, ao charco vicioso em que ele jaz.
– E conseguirá? – insistiu meu
colega, assombrado.
– Quem sabe? E, algo triste, o
orientador acrescentou:
– Naturalmente a jovem teria
escolhido o gênero de provações que atravessa, dispondo-se a lutar, com valor,
contra as tentações.
– E se não puder combater com
a força precisa?
– Será mais justo “dizer se
não quiser”, porque a Lei não nos confia problemas de trabalho superiores à
nossa capacidade de solução. Assim, pois, caso não delibere guerrear a influência
destrutiva, demorar-se-á por muito tempo nas perturbações a que já se encontra
ligada em princípio.
LIVRO: NOS DOMÍNIOS DA MEDIUNIDADE, Cap. 15. Psicografado por Francisco Cândido Xavier/André Luiz. FEB.
*Grifos do Blog
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