sábado, 14 de abril de 2018

Linha Branca de Umbanda

Tenda Nossa Senhora da Piedade
A organização das linhas no espaço corresponde a determinadas zonas na Terra, por largos ciclos no tempo.

Atendem-se, ao constituí-las, as variações de cultura moral e intelectual, aproveitando-se as entidades mais afins com as populações dessas paragens. Por isso, o espiritismo de linha se reveste, nos diversos países, de aspectos e característicos regionais.

Nas falanges da Linha Branca de Umbanda e Demanda já se identificaram índios de quase todas as tribos brasileiras, sendo que numerosos foram europeus em encarnações anteriores, pretos da África e da Bahia, portugueses, espanhóis, muitos ilhéus malaios, muitíssimos hindus.

Pode-se, no terreiro de Umbanda, estudando-se as manifestações de caboclos e pretos, estabelecer as diferenças raciais, distinguir as tendências das mentalidades desses dois ramos da árvore humana, surpreender os costumes de seus povos e comparar as duas psicologias.

O caboclo autêntico, vindo da mata, através de um aprendizado no espaço, para a Tenda, tem o entusiasmo intolerante do cristão novo, é intransigente como um frade, atirando a face os nossos defeitos e até com as nossas atitudes se mete. Ouvindo queixas dos que sofrem as agruras da vida, responde zangado que o espiritismo não é para ajudar ninguém na vida material, e atribui os nossos sofrimentos a erros e faltas que teremos de pagar. Mas, em dois ou três anos de contato com as misérias amargas de nossa existência, suaviza a sua intransigência e acaba ajudando materialmente os irmãos encarnados, porque se condói de sua penúria e deseja vê-los contentes e felizes.

O preto, que gemeu no eito sob o bacalhau do feitor, esse não pode ver lágrima que não chore, e quase sempre sai a desbravar os caminhos dos necessitados, antes que lhe peçam. O negro da África difere um pouco do da Bahia; aquele, na sua bondade, auxilia a quem pode, porém, às vezes, se irrita com os jactanciosos e com os ingratos, mas o da Bahia, em casos semelhantes, enche-se de piedade, pensando nas dificuldades que os maus sentimentos vão levantar na estrada de quem os cultiva.

A Linha Branca de Umbanda e Demanda tem o seu fundamento no exemplo de Jesus, expulsando a vergalho os vendilhões do templo. (...) O objetivo da Linha Branca de Umbanda e Demanda é a prática da caridade, libertando de obsessões, curando as moléstias de origem ou ligação espiritual, desmanchando os trabalhos de magia negra, e preparando um ambiente favorável a operosidade de seus adeptos (...)

O tratamento da obsessão, as curas das doenças de natureza espiritual, constitui os trabalhos de caridade; os outros, os de demanda; porém, os dois são absolutamente gratuitos. Se algum médium se esquece de seus deveres e recebe dinheiro, ou coisa correspondente, pela caridade feita, pelo seu protetor, este se retira, abandonando-o à entidades que em geral o reduzem a miséria.

A hierarquia, na Linha Branca, é positiva, mantendo-se com severidade. Todos os seus dirigentes espirituais proclamam e reconhece a autoridade de Ismael, guia do espiritismo no Brasil.

A incorporação é sempre um fenômeno complexo, que se processa mediante acidente psicológico, físico e espiritual, e tem na Linha Branca de Umbanda a expressão máxima de sua transcendência. Vulgarmente, basta que o espírito se assenhoreie dos órgãos cerebrais, vocais, e manuais, ou de todos os chamados nobres, para fazer a comunicação verbal ou escrita, e dar passes. Na Linha Branca, precisa apropriar-se de todo o organismo do médium, porque nesse corpo vai viver materialmente algumas horas, movendo-se, utilizando-se de objetos, às vezes suportando pesos. A incorporação na Linha Branca é quase uma reencarnação, no dizer de um espírito.

Dir-se-á que todos os socorros prestados pela Linha Branca poderiam sê-lo, sem os seus trabalhos, pelos altos guias, pelos espíritos superiores.

Os espíritos de luz que baixam à Terra, e se conservam em nossa atmosfera orientam falanges ou desempenha outras missões, e não contrariam, nem poderiam contrariar, desígnios em que se enquadram as funções de todos os servos da fé, grandes ou pequeninos, se em algumas situações lhes é permitido exercer a sua ação instantânea em favor de quem soube merecê-la, na maioria das circunstâncias deixam o indivíduo, pelas faltas do passado ou pelas culpas do presente, submeter-se ao que lhe parece uma degradação.

LIVRO: O ESPIRITISMO, A MAGIA E AS SETE LINHAS DE UMBANDA, Cap. XV. Leal de Souza, 1933.

*Grifos do Blog.

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