O atabaque tocava num ritmo especial enquanto alguém segurava um instrumento na mão direta, acompanhando o fenômeno, que se dava no meio do salão. Vi que uma luminosidade descia do alto, em meio a uma descarga elétrica que atingia em cheio o sistema nervoso da médium. Ela se remexia toda, num tipo especial de movimento, enquanto era envolvida por inteiro pela energia, que ao mesmo tempo penetrava nos centros de força, causando um afastamento abrupto do duplo etérico da mulher.
Pai João esclareceu:
- Reparem que não é um espírito incorporante que assume a médium, mas um tipo de energia que emana de algum lugar e é canalizada diretamente por ela. É algo muito diferente do costumeiro transe mediúnico, tanto na Umbanda quanto no Espiritismo. Aqui vemos uma força da natureza, algo que merecia toda a atenção dos pesquisadores do espírito, mas que infelizmente não encontra ressonância nos interesses daqueles que dizem conhecer profundamente a vida espiritual. O Orixá incorporante que vemos pode ser considerado o Orixá menor, enquanto a fonte de onde emana essa energia não humana, ou seja, não oriunda de um desencarnado, é o Orixá maior, que está em oposição vibracional a Exu, conforme expliquei. Trata-se de algo ainda incompreendido por nossos irmãos espíritas, uma força ainda não estudada pelos que afirmam conhecer a verdade espiritual. De todo modo, não é aqui que nos deteremos; devemos ir a outro aposento enquanto ocorrem aqui as manifestações dos Orixás sagrados do Candomblé.
Pai João nos conduziu a outro aposento enquanto deixávamos para trás o som dos atabaques, os cânticos dos fiéis e a dança contagiante das entidades, que uma a uma incorporavam em seus filhos.
Adentramos um cômodo onde vimos diversas peças de louça organizadas de maneira singular. Alguns pratinhos dentro de uma vasilha maior estavam dispostos em torno de um tipo de tigela, dentro da qual víamos uma pedra circundada por alguns símbolos estruturados em metal. Envolvendo tudo, uma espécie de colar de contas delicadas, além de outros, muitos outros recipientes semelhantes, todos delicadamente trabalhados e decorados.
- Resolvi trazer vocês aqui, meus filhos, apenas para mostrar os assentamentos dos Orixás e para fazer uma ponte com os assentamentos de Exu, o guardião dessa comunidade. Não nos demoraremos muito, pois o que nos interessa é perceber o significado e a forma como essa energia age, desde que estimulada por pessoas que sabem manipulá-la. Neste cômodo estão os chamados assentamentos de santo. Para vocês terem uma ideia do que veem – explicou, convidando-nos a observar mais os efeitos extrafísicos do que aquilo que pertencia ao mundo das formas –, estamos diante de um potente transformador energético, magnético e etérico. O chamado pai de santo ou zelador do orixá, conhecedor do processo mágico que envolve as manipulações etéricas, magnetizou estas pedras sagradas com a força do orixá; elas são guardadas neste ambiente considerado sagrado pelos adeptos do culto. É preciso entender que existem forças e processos vibracionais que, ainda hoje, permanecem ignorados pelos estudiosos do espiritualismo. Até porque a maneira como tais objetos são magnetizados é conhecida exclusivamente pelo zelador do orixá; trata-se de conhecimento repassado apenas por via oral, sendo proibido escrever qualquer dos segredos que envolve o processo iniciático e os rituais sagrados.
Miramos atentamente e vimos uma luz muito intensa emanar de cada recipiente que continha as pedras dos orixás. Pisávamos num santuário, um lugar sagrado, e nosso pensamento foi todo de reverência àquelas forças da natureza, que desconhecíamos por completo. Pai João queria que entendêssemos a fonte geradora da proteção espiritual daquele ambiente e dos fiéis ali reunidos. Dos objetos à nossa frente partia uma energia, rodopiando em diversas cores, subindo em direção ao infinito. Não conseguimos ver para onde ia, em que direção exata, pois o fluxo de energias subia sempre em espiral, movimentando-se com imenso magnetismo e sumindo muito acima da construção onde estávamos e onde ocorria o culto. Em meio aos raios, cores e vibrações, percebíamos vultos semelhantes à forma humana, porém mais refinados, adelgaçados, como que dançando ou movimentando-se, vestidos de fogo e outras manifestações da energia vibrada dos Orixás. Era algo que, particularmente, nunca havia visto. Creio mesmo que, além de Pai João, somente Jamar tinha conhecimento do que ali se passava. Watab, mantendo-se em respeitoso silêncio, olhava intensamente, aguçando suas percepções sobre o fenômeno que ocorria à nossa frente. [...]
- do livro OS GUARDIÕES, pelo Espírito ÂNGELO INÁCIO. Robson Pinheiro. Ed. Casa dos Espíritos.
*Grifos do Blog.
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