Perdoar aos inimigos é pedir perdão para si mesmo;
perdoar aos amigos é dar prova de amizade; perdoar
as ofensas é mostrar que se melhora. Perdoai, pois, meus amigos, para que Deus
vos perdoe. Porque, se fordes duros, exigentes, inflexíveis, se guardardes
até mesmo uma ligeira ofensa, como quereis que Deus esqueça que todos os dias
tendes grande necessidade de indulgência? Oh, infeliz daquele que diz: Eu
jamais perdoarei, porque pronuncia a sua própria condenação! Quem sabe se,
mergulhando em vós mesmos, não descobrireis que fostes o agressor? Quem sabe
se, nessa luta que começa por um simples aborrecimento e acaba pela desavença,
não fostes vós a dar o primeiro golpe? Se não vos escapou uma palavra ferina?
Se usaste de toda a moderação necessária? Sem dúvida o vosso adversário está
errado ao se mostrar tão suscetível, mas essa é ainda uma razão para serdes
indulgentes, e para não merecer ele a vossa reprovação. Admitamos que fosseis
realmente o ofendido, em certa circunstância. Quem sabe se não envenenastes o
caso com represálias, fazendo degenerar numa disputa grave aquilo que
facilmente poderia cair no esquecimento? Se dependeu de vós impedir as
consequências, e não o fizestes, sois realmente culpado. Admitamos ainda que
nada tendes a reprovar na vossa conduta, e, nesse caso, maior o vosso mérito,
se vos mostrardes clemente.
Mas há duas maneiras bem diferentes de perdoar: há o
perdão dos lábios e o perdão do coração. Muitos
dizem do adversário: “Eu o perdoo”, enquanto que, interiormente, experimentam
um secreto prazer pelo mal que lhe acontece, dizendo-se a si mesmo que foi bem
merecido. Quantos dizem: “Perdoo”, e
acrescentam: “mas jamais me reconciliarei; não quero vê-lo pelo resto da vida”!
É esse o perdão segundo o Evangelho? Não. O verdadeiro perdão, o perdão cristão, é aquele que lança um véu sobre
o passado. É o único que vos será levado em conta, pois Deus não se contenta
com as aparências: sonda o fundo dos corações e os mais secretos pensamentos,
e não se satisfaz com palavras e simples fingimentos. O esquecimento completo e
absoluto das ofensas é próprio das grandes almas; o rancor é sempre um sinal de
baixeza e de inferioridade. Não esqueçais que o verdadeiro perdão se reconhece
pelos atos, muito mais que pelas palavras.
(O EVANGELHO
SEGUNDO O ESPIRITISMO. CAP. 10 – Bem aventurados os misericordiosos. Instruções
dos Espíritos – I Perdão das Ofensas: PAULO. Apóstolo, Lyon, 1861. Allan
Kardec. Tradução de Herculano Pires).
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