Hilário pensou alguns instantes, valendo-se do intervalo que surgira na conversação e obtemperou:
- Possuímos nas igrejas a questão do patrocínio. Imaginemos que determinado templo foi erguido à memória de Gerardo Majela. Isso expressa uma obrigação para o grande místico europeu?
- Certamente não se trata de uma obrigação escravizante, mas de um serviço que lhe honra o nome e que merecerá dele certo reconhecimento mesclado de responsabilidade. Devemos reconhecer, contudo, que o trabalho do Bem, qualquer que ele seja, permanece ligado a Jesus. No entanto, se algum servo do Senhor está ligado a obra por fazer, tanto quanto lhe seja possível desdobrar-se-á para enriquecê-la de bênçãos.
- Mas... e na hipótese de algum santuário surgir, dedicado a suposto herói da virtude? Figuremos alguém da Terra sendo conduzido ao altar por imposição da autoridade humana, sem mérito bastante à frente do Senhor... Os crentes encarnados atribuir-lhe-iam poder de que não conseguiria dispor... Em que situação estaria o templo que lhe fosse consagrado?
Mariana registrou a pergunta, cortesmente, e explicou:
- Numa contingência dessas, mensageiros de Jesus responsabilizar-se-iam pela instituição, distribuindo aí os benefícios adequados aos merecimentos e necessidades de cada um.
- E o tipo de assistência? É de renovação espiritual ou a de mero socorro aos crentes encarnados?
- Ah! – comentou Mariana, sincera – o trabalho é complexo e divide-se em múltiplos setores. Não está limitado à esfera da experiência física. Inumeráveis são as almas que, desligadas do corpo, recorrem aos altares, implorando esclarecimento... Outras, depois da morte, confiam-se a desequilibradas emoções, invocando a proteção de Espíritos santificados... É preciso corrigir aqui e ajudar além... Agora, devemos injetar um pensamento reconstrutivo nessa ou naquela mente extraviada, depois, é imprescindível harmonizar circunstâncias em favor desse ou daquele necessitado... A maioria das pessoas aceita a Religião, mas não se preocupa em praticá-la. Daí nasce o terrível aumento das aflições e dos enigmas.
A lógica de Mariana encantava-nos.
Hilário, porém, prosseguiu indagando, perscrutador.
- Mas, apesar de consciente da verdade que a separação do veículo físico nos impõe, acredita a irmã que a organização católica é suficiente para conduzir o mundo moderno?
Ela sorriu com tristeza e redarguiu:
- Meu amigo, entre cooperar e aprovar, há sensível diferença. A sociedade ajuda a criança sem infantilizar-se. As igrejas nascidas do Cristianismo caminham para grande renovação. O progresso assim exige. As ideias de Céu e Inferno e os excessos de natureza política, na hierarquia eclesiástica, estabeleceram grandes perturbações para a alma popular. Entretanto, cabe-nos considerar as religiões que envelhecem como frutos fortemente amadurecidos. A polpa alterada pelo tempo deve ser colocada à margem; contudo, as sementes são indispensáveis à produção do futuro. Auxiliemos as igrejas antigas, em vez de acusa-las. Todos somos filhos do Pai celestial e onde houver o mínimo gérmen de Cristianismo aí surgirão recursos de recuperação do homem e da coletividade para o Cristo, Nosso Senhor.
(Livro ENTRE A TERRA E O CÉU. CHICO XAVIER/ANDRÉ LUIZ. FEB)
*Grifos do Blog.
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