- Em que base se formará o processo de auxílio nas igrejas? Com o impedimento de nossa comunicação direta, como será possível cooperar em favor dos nossos irmãos católicos-romanos?
- Muito simplesmente – esclareceu Mariana, prestimosa – o culto da oração é o meio mais seguro para a nossa influência. A mente que se coloca em prece estabelece um fio de intercâmbio natural conosco...
- Mas não de maneira ostensiva – alegou o nosso companheiro estudioso.
- Pelo pensamento – explicou a interlocutora, respeitável. – A intuição beneficia em toda parte, e, quanto mais alto é o teor de qualidades nobres na criatura, mais ampla é a zona lúcida de que se serve para registrar o socorro espiritual. O culto público, indiscutivelmente, qual vem sendo levado a efeito, nos tempos modernos, não favorece o contato das forças superiores com a mente popular. Os interesses rasteiros, conduzidos à igreja, constituem sólido entrave contra o auxílio celeste. E a preocupação da riqueza e pompa, quase sempre mantida pelo sacerdócio nos ofícios, inutiliza, por vezes, os nossos melhores esforços, porque, enquanto a atenção da alma se prende a exterioridades, as forças contrárias ao bem e à luz encontram facilidades positivas para a cultura do fanatismo e da discórdia. Ainda assim, superando tais obstáculos, é sempre possível algo fazer em benefício do próximo.
- Durante a missa, por exemplo – prosseguiu Hilário, observador -, é viável o seu trabalho de cooperação?
Mariana fixou uma expressão facial de bom humor e aduziu:
- Somos grandes falanges de aprendizes da fraternidade em ação. Por mais desagradáveis se mostrem os quadros de luta, a nossa obrigação é servir.
Finda ligeira pausa, continuou:
- Quando a missa obedece a pura convenção social, funcionando como exibição de vaidade ou poder, a nossa colaboração resulta invariavelmente nula.
E sorrindo:
- Que teríamos a fazer num ato bajulatório, em que os devotos da fortuna material ou da perversidade incensam a desregrada conduta de pessoas inescrupulosas? Há missas solenes de consagração a políticos astuciosos e a magnatas do ouro que, em verdade, são reais sacrilégios, em nome do Cristo. Por outro lado, há missas de almas que constituem escárnio à dor dos que foram recolhidos pela morte, quais as que são mandadas celebrar por parentes ambiciosos que, por vezes, até mesmo se alegram com a ausência do morto, ávidos que se mostram de lhes pilharem os despojos, na corrida a testamentos e cartórios. Essas missas fortemente adubadas a dinheiro estão para eles tão frias, como os túmulos em que se lhes asilou a carne desfigurada. Mas, se o ato religioso é simples, partilhado por mentes e corações sinceros, inclinados à caridade evangélica e centralizados na luz da oração, com os melhores sentimentos que possuem, o culto se reveste de grande valor, pelas vibrações de paz e carinho que arremessa na direção daquele a quem é endereçado. Frequentemente, as missas humildes, realizadas aos primeiros cânticos da manhã, são as mais favoráveis ao nosso concurso. Podemos, com mais segurança, articular as possibilidades ao nosso alcance e ambientá-las em benefício daqueles que esperam de nós o amparo necessário.
(do livro ENTRE A TERRA E O CÉU. André Luiz/Chico Xavier. FEB)
*Grifos do Blog.
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