Há, na Terra, um clamor angustiado por proteção.
É uma das necessidades humanas mais desejadas em todos os cantos do planeta. A sensação de desamparado ante tantas ameaças aproxima o ser humano das três principais feridas evolutivas: as feridas da inferioridade, do abandono e da falibilidade, que são cada vez mais expostas, criando uma sensação de desamparo.
A sensação de inferioridade brota ante os desafios sociais que convidam o homem a tomar consciência da sua verdadeira condição espiritual.
A experiência emocional do abandono é sentida quando a criatura começa a reconhecer a extensão do egoísmo na sua vida, pois, quando se descobre o egoísmo pessoal, o mundo é visto por outras lentes. Parece que todas as pessoas estão consumidas no seu próprio interesse e nada mais.
A consciência da sua falibilidade, no entanto, é o sentimento que mais arremessa a criatura nos braços do complexo de inferioridade e na dor do abandono. Sentir-se falível é reconhecer sua fragilidade ante os testes da existência.
Tais feridas sofridas na alma provocam o sentimento de medo. O ser humano está com muito medo, e a insegurança é uma doença grave da humanidade.
Escrevo para oferecer reflexões sobre a proteção.
Meu propósito é mostrar alguns caminhos pelos quais podemos desenvolver e absorver proteção íntima, sentindo-nos mais seguros perante o incontrolável fluxo da vida.
Manter-se, juntamente com seus bens, dentro de muros altos e de cercas elétricas, com cofres móveis e segurança armada, fortalezas perecíveis e passíveis de falhas, não elimina o nosso medo. Somente a edificação do sentimento de segurança interior é capaz de abrir as portas para que a criatura avance rumo ao seu crescimento sem deter a marcha na paralisia provocada pelas miragens aterrorizantes do medo.
Desejosas de proteção e de alívio, multidões terceirizam sua evolução, entregando sua vida pessoal a sacerdotes, médiuns, gurus, pastores e outros tantos líderes. Muitas vezes, acabam encontrando, sem perceber, exploradores, charlatães e místicos desorientados.
Para não cair em enganação, devemos nos proteger com a energia proveniente do amor. Autodefesa energética contra as forças malignas é resultado da amorosidade na conduta. O amor é o maior escudo protetor de nossa caminhada de progresso. Sem a vivência do amor, não existe estado íntimo de segurança. E, para amar, havemos de devassar o mundo interior e promover uma educação emocional consciente e bem dirigida.
Essa busca por amparo leva bilhões de seres à religião, pois estão necessitados do contato com uma força maior, com um Ser que os proteja, os oriente e os livre da intensidade da dor nas provações. O efeito do contato com essa luz, seja ela chamada de Deus, de espíritos de luz, de anjos ou de espírito santo, acontece quando a criatura se sente acolhida, fortalecida e aliviada.
Esse ato de buscar ajuda e amparo é muito saudável. O problema surge quando o ser humano se esquece de que a luz recebida é apenas um empréstimo para caminhar com mais coragem, com esforço próprio, na busca da solução. Entretanto, raros são os que assim entendem, e muitos terminam dependendo exclusivamente da ajuda divina, fugindo de sua parcela individual na responsabilidade de zelar pela vida íntima.
Em contrapartida, e como consequência do alívio encontrado na religião, existe a compulsão por proteção espiritual. Trata-se de uma doença, pois não podemos confundir proteção e alívio com solução das provas.
O estado de infância espiritual e emocional de muitas pessoas quer encontrar, nas bênçãos da religião, o amuleto sagrado que as livre dos problemas, quando, em verdade, a proposta da escola terrena, em todos os setores do progresso humano, é o aprimoramento por meio do esforço, do merecimento e da autoeducação, de forma que o ser humano tome posse de conquistas definitivas.
Livres das pressões das provas, com suas lutas amenizadas nos roteiros religiosos, grande parte desses espíritos assume a posição de proprietária da verdade. Disso, surgem os desrespeitos e as infrações às diferenças e aos diferentes.
Orientação religiosa é empréstimo. Descarrego, bênção papal, corrente de libertação, passes e rituais de obrigações são apenas movimentos para atenuar dores e revitalizar forças, quaisquer que sejam os nomes que se possa dar a eles. Religião sem melhora pessoal pode se transformar apenas em trampolim de vaidade pessoal e ferramenta do egoísmo para soluções imediatistas de problemas particulares.
A lei imutável e sagrada determina que cada um responda por sua própria plantação. Ninguém pode resolver nada pelo outro. Ninguém tem poder suficiente para transformar o outro, pois não existe amor capaz de mudar quem não queira. Cada um de nós tem de plantar, adubar, regar e fazer a colheita na caminhada das experiências na seara da vida.
A força real, o poder pessoal e a proteção legítima são conquistados, vêm somente de dentro da alma. Sua conquista se dá quando a criatura aprende a desenvolver seus potenciais mentais e emocionais, ou seja, quando decide usar sua liberdade de escolha para plantar as sementes que darão abundantes frutos do bem.
A autodefesa energética é um efeito de como lidamos com as potências da alma, com as forças divinas com que fomos criados. E a imunização contra o mal é o resultado da atitude de tecer a manta defensiva do bem, da qual nos tornamos legítimos proprietários.
Que os filhos consigam assimilar a verdade. Refúgio autêntico e fortaleza espiritual são construções interiores.
Quem aprende a amar adquire, também, o poder de se proteger.
E louvado seja nosso Senhor Jesus Cristo!
Autodefesa energética à luz do amor
Pai João de Angola.
Wanderley Oliveira. Livro: “Fala, Preto Velho”. Ed. Dufaux.
Mensagem de Novembro de 2012.
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