–
Sabemos das dificuldades que, infelizmente, nos impõem limites em nossos
contatos com os homens. A mediunidade, em si, é faculdade ainda em estado de
letargia em nosso psiquismo – trata-se de um sentido novo que, gradativamente,
vem se desenvolvendo ao longo das existências sucessivas. Mas não é justamente
este o aspecto que gostaria de abordar na oportunidade. O tempo fará o seu
trabalho, preparando o psiquismo das criaturas para o Grande Porvir, quando,
então, o homem utilizará com maior naturalidade os recursos da mente. A
Evolução não retroage e, independente de crença religiosa ou o que o valha, a
verdade é que os homens haverão de ser cada vez mais médiuns! Médiuns da
inteligência fora do corpo, domiciliadas noutras dimensões, como médiuns da
própria Vida, no sentido de senti-la e auscultá-la, em profundidade. Gostaria,
em rápidas palavras, de falar sobre os entraves, naturais e provocados, que
cercam o trabalho da mediunidade, suscitando inúmeros obstáculos quanto à sua
autenticidade.
Os
entraves naturais são oriundos de nossas imperfeições, espíritos encarnados e
desencarnados. Quase ninguém, na análise deste ou daquele comunicado, leva em
consideração que o médium e espírito são instrumentos falhos. A perfeição não
nasce do que é imperfeito... Por este motivo, todo contato nosso com o Plano
Material é caracterizado por pontos vulneráveis, ora decorrentes do médium como
instrumento, ora ensejado por nós, de quem as pessoas, equivocadamente, esperam
infalibilidade, pelo simples fato de nos encontrarmos desencarnados. Todos
sabemos quanto prosseguimos sendo humanos, embora despojados do envoltório mais
pesado que nos envolvia – a desencarnação, intrinsecamente, não nos faz
diferentes do que somos. Os nossos companheiros no corpo de carne não fazem
ideia do esforço que precisamos encetar, no sentido de corresponder às suas
expectativas, não lhes frustrando as esperanças. A mentalização, na qual, em
essência, todo comunicado mediúnico se baseia, não é fácil para nenhum de nós;
e, a rigor, só temos o pensamento para nos fazer sentir como éramos e
continuamos sendo... Estamos longe de superar os problemas afetos à sintonia!
Quando não é o médium que não se nos apresenta em condições ideais, somos nós,
que, deste Outro Lado, prosseguimos às voltas com problemas pessoais que nos
dizem respeito. Muitos – talvez, a maioria – nos imaginam, nas regiões de
Além-Túmulo, pairando acima de qualquer problema de ordem pessoal, como se a
desencarnação nos santificasse. Esta, sem dúvida, é uma questão que necessita
ser exaustivamente abordada por nós, para que os nossos irmãos encarnados
saibam, de uma vez por todas, que o desenlace do corpo não nos promove à
condição de espíritos isentos de lutas. Assim, com o corpo, pudéssemos deixar o
homem-velho, para sempre, na sepultura!... Demos um único passo na direção da
Luz, que continua a nos exortar a subir mais alto, a fim de que possamos alcançá-la.
Não somos – e nós próprios precisamos nos convencer disto – os mentores que os
nossos irmãos supõem que sejamos, apenas porque enviamos recados do Além para a
Terra; assim como os médiuns não são criaturas diferenciadas, cumprindo tarefas
missionárias, segundo a mística com que, equivocadamente, costumam se lhes
envolver a figura... E, diga-se de passagem, com a anuência de muitos deles,
que, em vez de interpretar a mediunidade como oportunidade de trabalho e
resgate, a utilizam na satisfação do próprio ego. Muitos, infelizmente, chegam
a fomentar ilusões a seu respeito, entregando-se à fascinação e ao delírio,
para, depois, chegarem a este Outro Lado completamente arrependidos, na
condição de espíritos enfermos, requisitando internação em hospitais
semelhantes a este que nos abriga.
Odilon,
com a sua vivência e perspicácia, estava, em minha opinião, tocando em uma das
feridas mais expostas do Movimento Espírita.
–
É injusto o que os homens esperam de nós... Não podemos colher o que não
semeamos! Como exigir dos outros o que não se tem para dar?
Recém-desencarnados, todos ainda nos submetemos ao Carma, e, como o nosso caro
Dr. Inácio Ferreira costuma dizer, o montante de nossos débitos é tamanho que
somos, concomitantemente, chamados a servir dos Dois Lados da Vida! Ele não
está brincando quando efetua semelhante comentário. No mundo, quase ninguém
pensa que temos as nossas atribuições por aqui e que precisamos, sim, nos
desdobrar para atendê-las de maneira conveniente – o nosso tempo necessita
render o dobro, pois, além das solicitações naturais de nosso novo habitat, não
podemos nos desligar dos compromissos que nos vinculam à Doutrina, junto aos
companheiros de Ideal que mourejam na carne. Concordam?
A
pergunta do Instrutor encontrara o silêncio como resposta, na reflexão que a
sua palavra nos induzia.
–
As pessoas, de modo geral, espíritas e não-espíritas, carecem de saber da
relatividade dos conceitos e opiniões que emitimos em nossos comunicados
mediúnicos. Estamos distantes da Verdade Integral! Daí, meus irmãos, um
problema grave que vem sendo gerado no intercâmbio – problema do qual não
podemos fugir, sob pena de sérios prejuízos para a Doutrina. Os espíritos e
médiuns deveriam, em suas obras ou em suas atividades, por mais
insignificantes, deixar claro que o seu labor é de principiantes, sujeito a
equívocos e, portanto, a revisões.
Fez
nova pousa e prosseguiu:
–
Eu me recordo de que o grande Chico Xavier se valia de uma borracha, sem o
menor escrúpulo, para corrigir este ou aquele pequeno descuido de filtragem...
Sem, repito, nenhum escrúpulo, solicitava à auxiliar mais próxima que lhe
passasse uma borracha, para, por exemplo, sanar uma falha ocorrida durante a
transmissão da mensagem. Não, mas os médiuns comuns não querem errar! Ora, na
condição de antena ultra-sensível, o medianeiro está sujeito a interferências,
mormente quando se encontra atuando, publicamente. Mas coitado do médium que
for, por exemplo, surpreendido em um erro de filtragem, perfeitamente aceitável
e compreensível! Os espíritas serão os primeiros a execrá-lo, porque se criou,
em torno da mediunidade, algo irreal, fruto da ignorância e da falta de estudo
das leis que regem o intercâmbio (...).
DO
LIVRO REENCARNAÇÃO NO MUNDO ESPIRITUAL, psicografado por CARLOS A.
BACCELLI/INÁCIO FERREIRA. Cap. 06.
*Grifos
do Blog.
Estou esperando para ler esse livro, pelo que você postou, muito bom e muito interessante.
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