quinta-feira, 7 de junho de 2018

Cativeiro da alma, por Pai João de Aruanda


Cativeiro. Palavra difícil, essa. 

Muitas vezes meus filhos julgam que o cativeiro é somente aquele em que os homens, geralmente os brancos, subjugavam negros e a eles impingiam toda sorte de sofrimento, de acordo com o mando do senhor dos escravos. Quanto engano. Há tantas formas de cativeiro... 

O jugo que o homem impõe sobre o  outro, tentando oprimir as consciências, espalhando a infelicidade dentro dos corações. O cativeiro das ideias, quando o ser se faz escravo de certos pensamentos, já ultrapassados, ou mesmo das próprias ideias, que nem sempre dignificam quem está com a razão. 

Existe a escravidão de um povo, de uma raça, de uma comunidade, de uma família ou  de um indivíduo, quando se recusa a seguir o progresso da vida e estaciona no tempo. Mas há também a escravidão daqueles que se julgam sábios, que repetem coisas belas filosofias copiadas de outros e que são  incapazes de realizar algo em benefício próprio, como a transformação íntima de suas tendências, seus costumes e ideias, pois se acham escravos de si mesmos. 

Na verdade, o cativeiro da escravidão pode ter passado. No entanto, quem sabe Isabel, a princesa, tenha apenas aberto um caminho para que os homens não  mais continuassem cativos de seus modismos, medos, ânsias e angústias; de sua pequenez sem sentido? 

É preciso que os meus filhos se encarem no espelho. Não naquele espelho  no qual costumam olhar-se pela manhã, mas no espelho do eu, na própria alma. Observar se não estão com grilhões atados na mente, na alma ou no coração. 

É preciso liberdade. Mas liberdade não é o resultado de um decreto ou de uma assinatura em uma folha de papel. A verdadeira libertação é a da alma, que poderá um dia voar livre como as andorinhas no céu  de sua própria vida. Sem grilhões, sem cordas, sem muletas. 

É preciso voar e voar alto, dentro de si mesmo.

Xangô morreu com seu livro de justiça, sentado numa pedra...
Quem deve paga, quem merece recebe...

LIVRO SABEDORIA DE PRETO VELHO, ROBSON PINHEIRO/ÂNGELO INÁCIO.
EDITORA CASA DOS ESPÍRITOS.

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