quarta-feira, 20 de junho de 2018

Banalização da Umbanda e o valor da corrente mediúnica, por Eloy Augusto



Léon Denis tem uma frase que é “o Espiritismo será o que os homens fizerem dele” e acredito que o mesmo valha para as demais religiões, especialmente para a Umbanda, pelo seu caráter de intercâmbio com o Além através da mediunidade, desde o seu início em 1908.
Antigamente a Umbanda era aprendida de boca a boca, no solo sagrado do terreiro, através da oralidade.
Antigamente se ensinava Umbanda pela palavra vigorosa do Caboclo, pelas mirongas do Preto Velho, pelas mandigas do Baiano, pelos ensinamentos do Exu...
Com o tempo foi-se escrevendo livros. E dos livros passaram-se para os cursos e com a era da informática, da tecnologia, começaram a se espalhar os “cursos online” de Umbanda...
“Umbanda é coisa séria para gente séria” – já dizia o Caboclo Mirim e médiuns sérios, comprometidos, está em falta...
Penso que no meio de tanta informação tem faltado bastante a filtragem por parte de muitos... Ou seja, é muito conhecimento na teoria e pouca experiência na prática, o que afeta no discernir de certas práticas e “verdades”...
Muitas pessoas hoje em dia tem acesso aos livros e a esses “cursos”, onde se aprende de tudo – desde a firmar uma vela pro anjo de guarda até às firmezas da tronqueira e do congá... “Cursos” que somente não ensinam como é ter, verdadeiramente, mediunidade ostensiva de trabalho na Umbanda, rs.
“Cursos” que ensinam um monte de coisas que deveriam (e devem!) ser aprendidas através da vivência mediúnica com os Guias Espirituais incorporados, nos trabalhos mediúnicos de um Templo, com a direção experimentada de um “Pai de Santhé” para orientar o neófito em seu aprendizado, conduzindo-o em sua “iniciação mediúnica”, que se dá ano após ano de trabalho ininterrupto na corrente de caridade...
Umbanda não se aprende da noite pro dia ou em poucas horas de “cursos online”...
Penso que todo conhecimento teórico tem o seu valor e sempre digo que o médium precisa estudar, que tem que acabar essa ideia horrível de que “o meu Guia faz tudo!”... Só que o conhecimento teórico para ser bem aproveitado precisa da experiência, da provação, da prática, dos testemunhos de fé...
Não apoio, de forma alguma, a dependência do indivíduo para com o seu sacerdote, mas tem coisas que, de fato, fogem dessa questão (a qual, aliás, não estou tratando).
Cada vez mais as pessoas querem ser “pais e mães de terreiro”, querem ostentar títulos ilusórios de “mago x” ou “iniciado z”, mas não querem ser filhos, não querem esperar a sua hora, não querem o aprendizado proporcionado por cada gira, não querem, enfim, ter humildade...
Hoje em dia em muitos terreiros o que há, de fato, é um palco para o ego de gente perturbada e profundamente necessitada de tratamento espiritual, psiquiátrico e psicológico!
As pessoas estão muito apressadas e a vulgarização da Umbanda, a vulgarização da Mediunidade, tristemente, tem levado muitas pessoas completamente despreparadas, cheias de um conhecimento teórico, de um pretenso “saber iniciático”, a abrir tendas e terreiros (ou a atenderem em casa), sem possuírem um real compromisso mediúnico e uma verdadeira cobertura do Astral Superior, desequilibrando inúmeras pessoas e a si mesmas, “desenvolvendo” uma mediunidade, muitas vezes, inexistente...
Os “cursos de sacerdócio”, no meu ver, são uma verdadeira aberração, porque visa preparar, indiscriminadamente, qualquer pessoa, qualquer curioso, para se tornar “pai ou mãe de terreiro”. Triste desserviço feito a Umbanda! Cegos que guiam cegos rumo ao abismo!
Muitas pessoas não querem se vincular a um terreiro umbandista, não querem se submeter a regras, ter ou orientação, afinal de contas, tudo isso dá muito trabalho, não lhes enaltece a vaidade, não é mesmo?!
Tantos “cursos” que vemos pela internet a fora, tantos vídeos que “ensinam” como fazer isso ou aquilo, e o básico do básico, a pessoa desconhece... Não tem preparo, não tem vivência, não tem discernimento...
Levar conhecimento é uma coisa e acho completamente louvável.
Agora enganar trouxas (me desculpem, mas a palavra é essa e tem muita gente que se engana porque quer!), com “cursos” pagos, presenciais ou onlines, é cair nas malhas da obsessão e do fanatismo, da perturbação e da mistificação!
O valor da corrente mediúnica, dos médiuns agrupados em torno de um sacerdote, com o ideal de crescimento espiritual, de caridade desinteressada, de estudo, é de um valor inestimável nesses tempos de vulgaridade, de banalização do sagrado...
Que a Umbanda possa resgatar a sua simplicidade em comunhão com o estudo sério e com a disciplina, onde as pessoas aprendam sim, estudem com certeza!, mas não se esqueçam de que a mediunidade é para ser exercida dentro do terreiro, onde há toda a segurança energética e o amparo de outros indivíduos, onde para cada um tem o seu momento e a sua hora...

Eloy Augusto.
SP. 20/06/18.

2 comentários:

  1. Concordo plenamente com o texto. Atualmente existe curso pra tudo, um comércio em nome da Umbanda...

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  2. Concordo plenamente... Infelizmente muitos fazem da Umbanda um comércio através destes cursos à distância... E o pior: Não são todas as pessoas que tem o sacerdócio como missão, o que compromete e muito o trabalho espiritual...

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