Cabe-nos
algumas reflexões a respeito da maneira
como os “pais e mães de terreiro” estão conduzindo os seus
adeptos para olharem a fé e a espiritualidade, porque, infelizmente, o comércio
religioso ainda é muito forte nas religiões afro-brasileiras, onde preponderam o ganho fácil, e apesar de não termos o conceito judaico-cristão do pecado, a figura do mal e do castigo ainda tem
espaço na representação das forças da natureza que denominamos Orixás, Voduns e Inkinces.
Quero tratar
hoje de um assunto polêmico e de uma filosofia errada, que ainda em pleno Séc.
XXI, prepondera completamente distorcida, passada de geração em geração nas
muitas roças e terreiros de Candomblé, mas que também influencia a Umbanda, e
que muitos “filhos-de-santo” e adeptos não tem o hábito de questionar, de
refletir, de criticar (no bom sentido) a fim de buscarem um entendimento mais
profundo sobre essas questões.
Falemos dos “inimigos internos” que prejudicam e destroem a religião de dentro pra fora.
Nós – praticantes da Umbanda e do Candomblé – cultuamos as Forças da Natureza que, para o yorubá,
se chama Orixá. Na visão yorubá tratam-se de deuses (sendo alguns, ancestrais
divinizados, no dizer de Pierre Fatumbi Verger) e na visão umbandista são
Forças da Natureza ou Vibrações Cósmicas que emanam do Criador, se manifestando
do Cosmos incriado e abstrato, para dar e sustentar a vida no plano das formas.
Como considerar
que quem sustenta a vida se compraz em tirá-la ou maltratá-la?
Trato aqui,
pois, da ideia absurda de quê “se fulano não se iniciar para o Orixá, será morto” ou “sicrano está com a vida parada porque não toma as obrigações, não cuida
do seu Orixá”ou “beltrano está doente porque o Orixá está lhe
castigando”, dentre outras
ideias que não reforçam a visão de uma divindade amorosa e compassiva, apenas fortalecendo
a “propaganda
evangélica”contra as
religiões afrodescendentes.
Infelizmente na
Umbanda a conversa, em alguns terreiros, não é muito diferente, não! Porque o
que mais ouvimos dizer é “tem demanda feita contra fulano”, “se beltrano não
desenvolver a sua mediunidade, continuará doente” ou “sicrano está
levando surra do preto velho, do caboclo ou do exu tal” ...
Se a Umbanda e
o Candomblé são religiões voltadas ao mal por que contam milhares de adeptos?
Na verdade, os discursos que citei não são usados por pessoas de bem, por
sacerdotes e sacerdotisas verdadeiramente comprometidos com a sua religião, e
sim com charlatães, com oportunistas, com mentirosos, com falsos sacerdotes.
Qual será o
interesse por detrás de um discurso como esse, se não o de explorar a pessoa e subjugá-la
através do medo, arrancando dela uma boa soma em dinheiro?
Afinal de
contas, as “iniciações,
obrigações, sacudimentos, boris, trabalhos, homenagens e entregas”, tanto no Candomblé como na Umbanda, costumam ser
custeadas pelos filhos-de-fé, que “pagam a mão” do
sacerdote, a qual, na grande maioria das vezes, não costuma ser barato.
Precisamos ter
muito cuidado com as pessoas que adotam essas filosofias, principalmente quando
procuramos alguém para cuidar do nosso espiritual, sendo que o comércio
religioso é muito grande.
É claro que não
pretendo generalizar a questão porque existem muitos pais e mães-de-terreiro,
tanto na Umbanda como no Candomblé, que fazem um trabalho sério e digno.
Naturalmente
que alguns tipos de trabalhos tem as suas despesas, dado os elementos materiais
que são comprados para ser usados nos ritos, mas, desde que não se torne algo
abusivo, que extrapole o bom senso, é fato comum, uma realidade vivenciada e
normal para o povo-de-santo.
Precisamos nos
precaver, porém, dos “estelionatários espirituais”, mesmo sabendo (especialmente no Candomblé) que as coisas usadas às
vezes são caras, por se tratar de elementos africanos, importados, é
indispensável estarmos atentos quanto aos excessos, ao luxo excessivo, às
vaidades... Porque também existem aqueles que pensam que “o Orixá me dará, em prosperidade, aquilo tudo que
eu lhe der” – e muitas vezes gastam o que não tem, buscando
comprar as melhores porcelanas para montar os igbás, roupas (de pano africano,
de rechilieu) e paramentas (cromadas, banhadas a ouro ou prata), uma quantidade
maior de animais para o sacrifício, enfim, todo um excesso dispensável e que não
reflete a essência natural do Candomblé, que é, justamente, a humildade e a
simplicidade, por tratar-se de uma religião tribal, ancestral, natural.
Enfim,
precisamos ter cautela e raciocinar quanto a essas filosofias erradas que tem
se propagado e também influenciam demais a Umbanda, talvez porque muitos iniciados
no Candomblé são adeptos das práticas mediúnicas umbandistas, ou seja, “tocam a sua umbanda”, como se diz popularmente, que quer dizer: trabalham com pretos velhos,
exus, caboclos, boiadeiros, em giras semanais em seus barracões, num culto
misto; seja porque muitos adeptos da Umbanda tem grande interesse pelas coisas
do Candomblé...
O Orixá nos ama
a todos e não deve ser considerado, nunca, a causa dos nossos problemas.
Os Guias
Espirituais nos amam a todos e zelam pela nossa evolução espiritual, não
devendo ser considerados seres que nos cobram, que nos maltratam, que nos
prejudicam (o nome disso é espírito obsessor, kiumba).
Não é possível – e também não tenho a pretensão de – esgotar o assunto ou dar um “ponto final” nesse tópico, porque, ainda há muitas outras reflexões a serem feitas,
a qual, futuramente, retomarei em outros textos, porque um assunto puxa o
outro, porém, a nossa necessidade de refletir, de não aceitar as coisas sem um
julgamento mais criterioso é urgente!
A nossa fé e a
nossa religião será o que nós fizermos delas... Pensemos nisso, tomemos o
devido cuidado, questionemos e busquemos a reflexão cautelosa ante algumas
questões, para não cairmos em desequilíbrio.
Eloy Augusto. SP.
20/06/18.
21:48.
Já ouvi coisas parecidas sobre isso da obrigação e de que saísse do tal lugar minha vida andaria toda pra trás... É o que falo sempre: Espiritualidade é amor, não há lugar para coisas tão baixas... Lamentável ainda encontrar esse tipo de situação em pleno século XXI... Pessoas de má índole se aproveitando de pessoas fragilizadas e emocionalmente abaladas...
ResponderExcluirPois é irmã Juliana e como encontramos, charlatões que não tem mão de buzios, cada vez que joga muda o orixá, e pede ebó, Buri e por aí vai, a quantia de dinheiro é exorbitante. Eu particularmente estou mais decepcionada com o candomblé, se aproveitam do desespero das pessoas, infelizmente, não há caridade. A umbanda que conheço e graças a Deus frequento não tem nada disso.
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