sexta-feira, 29 de junho de 2018

Pai-de-santo na Umbanda e no Candomblé? por Eloy Augusto



Já não é de hoje, ou melhor, desde o começo da Umbanda que isso vem ocorrendo. É certo que antigamente havia uma maior distinção entre os adeptos, entre ser espírita, ser candomblecista e ser umbandista, apesar da confusão popular entre as três religiões, naquilo que Ramatís chama de “práticas mágicas populares”.
Não pretendo com esse texto demonstrar senão a minha própria experiência e vivência nas religiões que citei – válida, portanto, apenas e tão somente como uma reflexão de fé, opinião e entendimento pessoais meus.
Muitas pessoas que hoje são iniciadas no Candomblé começaram as suas atividades religiosas no Espiritismo e na Umbanda (como eu mesmo), e mesmo após sua “feitura de santo” continuaram “tocando a Umbanda”, o que quer dizer: realizando as giras com atendimentos espirituais com os pretos velhos, exus, caboclos, marinheiros, boiadeiros, ciganos, dentre outros Espíritos.
Existe muito sectarismo a fim de se fazer distinção entre ambos os adeptos, porque – e isso não posso negar – existe muito preconceito velado dos nossos irmãos do Candomblé para com a Umbanda, por se considerarem superiores por serem de uma religião mais antiga e tradicional, não aceitando a interpretação umbandista sobre os Orixás; assim como há umbandistas que desdenham das religiões afro-brasileiras e suas manifestações, considerando-se superiores por não se utilizarem de ritos que julgam atrasados (como o sacrifício de animais – que, além da função religiosa, alimenta toda uma comunidade) e isso sem falar do preconceito interno e a disputa de poder por causa das várias “vertentes” que existem dentro do próprio movimento umbandista.
Porém existe muitas pessoas boas, sérias e comprometidas nas duas bandas e entre as duas bandas – a qual são, justamente, aqueles que se afinizam com o Culto aos Orixás da forma do Candomblé, mas que preservam a sua fé e os ritos da Umbanda.
Nada impede uma pessoa de praticar as duas formas de rito – desde que preservando a identidade religiosa de ambos e nesse ponto há que se ter muitos cuidados para não desrespeitar as duas ancestralidades envolvidas. É certo que muitos terreiros de Candomblé fazem os seus “toques” para os Guias da Umbanda e não vejo nisso nenhum mal, pois o preto velho ou o caboclo que atende num templo umbandista “puro” (ou seja, que não tem nenhuma ligação com a religião afro-brasileira¹) também “baixa” nos terreiros candomblecistas, trazendo as suas palavras de consolo, a sua defumação, os seus benzimentos e praticar sua caridade; tanto quanto o Orixá que se manifesta nos filhos-de-santo candomblecista são os mesmos que nos visitam os terreiros de Umbanda, manifestando (mesmo que de forma diferente na sua expressão mediúnica) nos filhos-de-fé e mobilizando grandes cargas de energias benfeitoras, de limpeza e cura, em comunhão com os espíritos da natureza (elementais – gnomos, silfos, ondinas, salamandras, etc).
Conheço indivíduos sérios que trabalham na Umbanda (inclusive sendo dirigentes de terreiro) e que são, por exemplo, iniciados no Culto Tradicional Yorubá – Culto de Orunmilá-Ifá, assim como conheço indivíduos que são “ortodoxa e puramente” umbandistas e são pessoas más, sem índole moral... Isso tem a ver com a índole da pessoa e não com a fé abraçada.
Uma coisa não exclui e não diminui a outra, porque, quando digo de preservar a identidade religiosa de ambos me refiro a fazer cada coisa no seu lugar correto, na sua hora correta, sem “misturar”, digamos, as duas expressões rito-litúrgicas. Há muitos terreiros que “tocam” as duas bandas e são terreiros sérios, bons, comprometidos com o bem nas duas formas religiosas que abraçaram...
No caso de um indivíduo que tem seu compromisso mediúnico de trabalho com a Umbanda, poderá, no meu ver, ter o seu pai-de-santo na Umbanda, que lhe orientará e lhe auxiliará em sua jornada espiritual dentro desse caminho de fé, tanto quanto o iniciado no Candomblé contará com o auxílio do seu Babalorixá ou de sua Iyalorixá naquilo que precisa cumprir nessa fé.
E se esse indivíduo tem um compromisso espiritual com as duas religiões naturalmente que será guiado por dois sacerdotes distintos a lhe orientar sem que isso seja algo negativo ou conflitante.
Essa estória de “você tem que escolher aqui ou lá” comigo nunca deu certo, me causando mesmo durante alguns anos uma verdadeira crise de consciência e de fé, mas precisamos entender e respeitar os dirigentes e as casas que tem como regra que o indivíduo apenas exerça sua mediunidade e sua jornada espiritual naquele lugar; podemos até não concordar, o que é nosso direito, mas seria bom buscar o entendimento dos motivos disto, refletir, tentar entender o lado de quem pensa assim, e entender que não temos como generalizar, cada caso é um caso.
Durante alguns anos eu pensei que a Umbanda e o Candomblé não poderiam se tocar juntos e isso me causava um desconforto enorme, uma crise de fé tremenda, porque eu já era iniciado no Candomblé nessa época, mas também trabalhava com os meus Guias da Umbanda em um centro espírita e eu interpretava erradamente aquela passagem do “seguir a Deus e a Mamon”, graças ao preconceito interno que eu trazia e em parte graças ao preconceito de outros trabalhadores espíritas da época que me diziam que eu deveria me decidir e não transitar entre as duas fés.
Hoje já tenho uma visão leve, universalista, com liberdade de pensamento e de fé, sem a intenção de colocar um ponto final ou um julgamento decisivo nas várias expressões de fé que existem e que eu amo (como as três religiões que mais fazem parte da minha vida – o Espiritismo, o Candomblé e a Umbanda; assim como me tenho afinidade expressa com o Budismo, com o Hinduísmo e com o Hare Krishna), entendendo que cada um tem uma caminhada peculiar e que devemos sempre, em todo caso, respeitar as necessidades espirituais, conscienciais e evolutivas de cada indivíduo, guardando, das experiências religiosas que passamos na vida, o aprendizado necessário que nos leve a Deus e que nos torne alguém melhor.

ELOY AUGUSTO.
SP. 29/06/2018.
¹Ou pensa não ter, porque, se há a presença dos Orixás é graças ao Candomblé; se há termos yorubás ou quimbundos, é graças aos negros de Ketu e de Angola, que cultuam os Orixás e Inkinces; ou será que quem pensa assim se esquece que os pretos e pretas velhas da Umbanda também foram iniciados às Forças da Natureza?

terça-feira, 26 de junho de 2018

Influência moral do médium


            Todas as imperfeições morais são portas abertas aos Espíritos maus, mas a que eles exploram com mais habilidade é o orgulho, porque é essa a que menos a gente se confessa a si mesmo. O orgulho tem posto a perder numerosos médiuns dotados das mais belas faculdades, que, sem ele, seriam instrumentos excelentes e muito úteis.
            Tornando-se presa de Espíritos mentirosos, suas faculdades foram primeiramente pervertidas, depois aniquiladas, e diversos se viram humilhados pelas mais amargas decepções.
            O orgulho se manifesta, nos médiuns, por sinais inequívocos, para os quais é necessário chamar a atenção, porque é ele um dos elementos que mais devem despertar a desconfiança sobre a veracidade das suas comunicações. Começa por uma confiança cega na superioridade das comunicações recebidas e na infalibilidade do Espírito que as transmite. Disso resulta um certo desdém por tudo o que não procede deles, que julgam possuir o privilégio da verdade.
            O prestígio dos grandes nomes com que se enfeitam os Espíritos que se dizem seus protetores os deslumbra. E como o seu amor próprio sofreria se tivessem de se confessar enganados, repelem toda espécie de conselhos e até mesmo os evitam, afastando-se dos amigos e de quem quer que lhes possam abrir os olhos. Se concordarem em ouvir essas pessoas, não dão nenhuma importância às suas advertências, porque duvidar da superioridade do Espírito que os guia seria quase uma profanação.
            Chocam-se com a menor discordância, com a mais leve observação crítica, e chegam às vezes a odiar até mesmo as pessoas que lhes prestam serviços.
            Favorecendo esse isolamento provocado pelos Espíritos que não querem ter contraditores esses mesmos Espíritos tudo fazem para os entreter nas suas ilusões, levando-os ingenuamente a considerar os maiores absurdos como coisas sublimes.
            Assim: confiança absoluta na superioridade das comunicações obtidas, desprezo pelas que não vierem por seu intermédio, consideração irrefletida pelos grandes nomes, rejeição de conselhos, repulsa a qualquer crítica, afastamento dos que podem dar opiniões desinteressadas, confiança na própria habilidade apesar da falta de experiência – são essas as características dos médiuns orgulhos.
            Necessário lembrar ainda que o orgulho é quase sempre excitado no médium pelos que dele se servem. Se possui faculdades um pouco além do comum, é procurado e elogiado, julgando-se indispensável e logo afetando ares de importância e desdém, quando presta o seu concurso. Já tivemos de lamentar, várias vezes, os elogios feitos a alguns médiuns, com a intenção de encorajá-los.
LIVRO DOS MÉDIUNS, CAP. 20, item 228. ALLAN KARDEC.

segunda-feira, 25 de junho de 2018

Benzimentos, por Ramatís


PERGUNTA: - Os tradicionais benzimentos produzem algum efeito positivo nos pacientes?
RAMATÍS: - Desde que confieis no poder do bem, é evidente que também deveis confiar no benzimento, pois este é um modo de praticá-lo! Há quem maldiz e quem abençoa; quem benze, abençoa! É tão funesto desejar o mal, como é benéfico desejar o bem; o benzedor, portanto, é a criatura que durante alguns momentos abdica de seus interesses e de sua própria comodidade, a fim de movimentar forças em favor de outrem. Portanto, descrer do benzimento é o mesmo que descrer da positividade do bem!

PERGUNTA: - O benzimento seria um ato de magia?
RAMATÍS: - Conforme diz o dicionário comum, “magia é a ciência ou arte de empregar conscientemente os poderes invisíveis para obter efeitos visíveis”. A vontade, o amor e a imaginação são poderes mágicos que todos possuem e quem os desenvolve e os emprega conscientemente é um mago!
Em consequência, o benzedor, que benze, faz simpatias ou responsos, exorcismos ou passes, é a pessoa que está mobilizando os poderes invisíveis para conseguir resultados positivos no mundo material. E como emprega tais poderes para o bem, é, também, um mago que pratica magia branca. Não importa se ele não se cerca dos apetrechos consagrados pela tradição milenária da magia. Mas é um mago popular praticando a sua magia a varejo e destinada a fins de menor importância. O benzimento é um ato de magia teúrgica¹, porque é uma arte de fazer milagres!

PERGUNTA: - Como se produz o efeito benéfico nos tradicionais benzimentos de “quebranto” das crianças?
RAMATÍS: - As criaturas que praticam o benzimento são verdadeiros transformadores vivos, pois dissolvem o fluido do mau-olhado ou da projeção mental à distância e malevolamente incrustados na aura das crianças. Elas se ajustam muito bem no conceito dinâmico recomendado por Jesus: “Quem tiver fé como um grão de mostarda, remove montanhas”.
Em face da maldade ainda predominante no mundo primário terreno pelo entrechoque dos piores sentimentos de raiva, ódio, ciúme, perversidade e orgulho, o benzedor é um “oásis” no deserto escaldante do sofrimento humano! Ele cura bicheiras, levanta quebranto, alivia epilépticos, afasta mau-olhado, acalma vermes, reza responso para descobrir aves e animais perdidos, defuma residências enfeitiçadas, limpa a aura das criaturas contaminadas com maus fluidos, expulsa o azar da vida alheia, benze eczemas e impingens, conserta espinhela e arca caída das crianças recém-nascidas, benze de inveja ou de susto, faz simpatias que derrubam verrugas ou calos!
(...) O caboclo inculto, pobre e ingênuo, prolonga a vida do próximo, enquanto as elites dominadoras do mundo povoam os cemitérios de corpos trucidados. Felizes o que se curvam ao benzimento supersticioso, que lhes ameniza a existência atribulada, do que aqueles que se subordinam ao gênio científico, que aperta um botão eletrônico e liquefaz milhares de criaturas sob o fogo desintegrador da bomba atômica!

¹ - Teúrgico (de Teurgia): s.f. Magia baseada na comunicação com os espíritos celestes.

(Livro MAGIA DE REDENÇÃO. Hercílio Maes/Ramatis. Ed. Do Conhecimento).

domingo, 24 de junho de 2018

Reencarnação no mundo espiritual, por Inácio Ferreira, parte 2


Temendo que as reminiscências daquele encontro espiritual sui-generis se escoassem da minha cabeça, como é tão comum que às pessoas suceda, saltei da cama de imediato e, pegando o material de escrita mais próximo de mim, alinhavei alguns tópicos daquela conversa tão substancial, que tanto viera acrescentar às ideias constantes do meu esforço para desenvolver, no que tange à abrangente questão do renascimento. Em meu inconsciente, eu tinha a nítida impressão de ter ficado gravado muito mais do que pudéramos expressar, eu e aquele ser, que me impregnara com a presença de seu amor e sabedoria, embora relativos:

- todas as criaturas que têm corpo, ou seja, uma forma de manifestação de sua própria essência imortal, podem gerar corpos semelhantes ao seu;

- a reprodução dos envoltórios que servem ao espírito, em todo o Universo, em sua jornada evolutiva, é Lei Natural;

- a reprodução humana, na Terra, e mesmo nos Mundos Superiores, em comparação aos processos que vigem em Esferas da Dimensão Física e Extrafísica, podem ser considerados ainda primitivos;

- o único espírito que gera espíritos é Deus;

- todos os "princípios espirituais" nascem de Deus, no sentido de que por Ele, e somente por Ele, são criados;

- os princípios da vida material, de sua menor partícula constitutiva à sua maior expressão, do micro ao macrocosmo, reproduzem-se a partir de si mesmos e renascem de si mesmos;

- a matéria, veículo de aperfeiçoamento do espírito, é aperfeiçoada por ele, à exata medida em que se aperfeiçoa;

- toda matéria, oriunda da Matéria Primordial, é, potencialmente, "grávida" no campo das formas - átomos e células se reproduzem;

- o Universo não estaria em constante expansão, caso os elementos cessassem de se multiplicar - é de se supor, pois, que o Universo nunca cesse de se expandir;

- e, por fim, a Terra não é mais do que um dos Infinitos Planos onde se nasce, morre, renasce e torna a morrer...

Em linhas essenciais, havia registrado os tópicos que o meu encontro espiritual com aquele ser me ensejava à reflexão imediata. Confesso que, desde que me tornara espírita, nunca pensara tão profundamente na questão do renascimento nos diferentes Planos da Vida, com base no axioma de que "corpo sempre gera corpo".

Trechos do livro Reencarnação no Mundo Espiritual, Cap. 20, psicografado por Carlos. A. Bacelli/Inácio Ferreira.

Reencarnação no Mundo Espiritual, por Inácio Ferreira


— Você tem corpo? - insisti.

— Enquanto não chegarmos a Deus, todos temos diversos corpos... Somente em Deus, o espírito será espírito! A imperfeição consiste tem "ganhar corpos"; a perfeição em perdê-los...

— Jesus era sem corpo?

— Ele é sem corpo!

— Diga-me...

— Pergunte, não hesite. Ou prefere que eu formule a pergunta por você?

— O espírito não procede do espírito...

— Correto! Em espírito, as criaturas, em todo o Universo, só procedem de Deus, o Espírito! Só há um Criador em toda a Criação!

— Mas é certo que o corpo procede do corpo? - indaguei, por fim.

— É óbvio, é lógico, é natural! - exclamou com ênfase.

— Vocês, então?...

— Sim - respondeu sem que eu tivesse necessidade de perguntar -, também PROCRIAMOS! O corpo, onde se situar, sempre gerará corpos - é da Lei que assim seja!

— Como?

— Pela reprodução, a Lei da Natureza para que os corpos se multipliquem, quando há necessidade.

— Quer dizer?

— Que o espírito só deixará de gerar corpos semelhantes ao seu quando alcançar a condição de espírito puro!

— Como se dá?...

— Esta é a única pergunta que não lhe poderei responder. Seria inútil!

— Acima de você, no estado em que você se me apresenta?...

— ... vivem outros em corpos mais aperfeiçoados, não obstante, PROCRIAM ENTRE SI!

— Inacreditável!

— Logo você? - perguntou-me ele, como se fosse eu mesmo a ironizar-me.

— Então, só o espírito não se reproduz? - questionei, percebendo que o meu tempo estava a se esgotar. Eu não suportaria estar na presença - permitam-me a expressão - daquela criatura por mais tempo.

— Certo!

— Não, não se vá...

— É preciso!

— Você é homem ou mulher? - perguntei sem saber o que, naquela condição, eu mesmo era. (Envergonhei-me, de imediato, da tola pergunta que fizera, porém já era tarde...)

— Os dois! - frisou sem titubeios. — Como você neste instante!

— Eu?!... Hermafrodita?!...

— Por que vocês, os homens, hão de pensar sempre em termos de sexo? A sexualidade não se prende a esta ou àquela condição sexual. Que primitivismo! O sexo é sexo daí para baixo...

E concluiu:

— Daí para baixo, não da cintura...

Diálogo entre o Espírito Inácio Ferreira (desdobrado em corpo mental) com Paramahansa Yogananda. 
No livro Reencarnação no Mundo Espiritual, Cap. 20, psicografado por Carlos. A. Bacelli.

quinta-feira, 21 de junho de 2018

Cavalo - Oportunidade de Ouro


"CAVALO" - OPORTUNIDADE DE OURO

Trabalho como médium de Umbanda há alguns anos e, até hoje, não me acostumo com a confusão que existe em função das entidades usarem nosso corpo. O preto velho vem, trabalha e, como é de sua característica, comove com sua doçura e candura. Aquela entidade se torna importante para as pessoas que ele atende. Torna-se o vovô dos contos de fada, que nos dá colo e carinho e, quando precisamos, sempre tem um jeitinho meigo de colocar nossos pés no chão. Aprendemos a amar. Quando percebemos, já tomou conta dos nossos corações.

O Caboclo desce com seu brado e encanta com sua beleza e sua força. Todos os respeitam por tudo que ele representa. Uma entidade em completa comunhão com a natureza e com a vida. Mostrando-nos em que seres humanos devemos nos tornar. É um espelho de como se deve agir.

A criança, com sua pureza de coração e suas brincadeiras, é a prova viva que existem sim espíritos que amam somente por amar. Fazem “arte” e alegram nossos corações com travessuras juvenis. São verdadeiros doutores, que trazem dignidade ao espírito com sua simplicidade e curam as chagas abertas em nossos corações.

O Exu, aquele que é tão polêmico entre os que não o compreendem, verdadeiro guardião, amigo leal que trabalha no cumprimento da lei de Deus. Guerreiros do astral, estão sempre olhando e intervindo por nós. São os verdadeiros anjos da guarda. Ajudam-nos no progresso e nos dão força para nos reerguermos nas quedas. Todos podem te abandonar, o mundo pode ser cruel e te tirar tudo, mas ele sempre estará ao seu lado. Amigo querido, o que seria das nossas vidas sem eles?

E são tantos outros, que provavelmente um texto viraria um livro. Malandros, baianos, boiadeiros, marujos, ciganos, orientais, etc. Cada um com sua característica, com uma história, com um carinho especial. Palavras não conseguem descrever a real participação que estes guias têm na vida de seus “filhos”.

Sabendo disso tudo, que digo que não me acostumo com a confusão que existe quando o guia vai e ficamos apenas nós, os “cavalos”. Quem dera se eu fosse uma pontinha de cada um deles. Mesmo estudando muito, presenciando atendimentos como um telespectador que somos nós médiuns, ainda hoje me surpreendo com as palavras ditas por eles. O problema é que quando o consulente, que ama aquela entidade, chega perto de você, confundindo com o guia que há alguns minutos recebeu, ele se decepciona, pois logicamente ainda temos muita estrada pela frente para chegar perto do que eles alcançaram. Por isso médiuns, que o estudo tem de ser constante e o aprendizado eterno, mas com afinco de sempre tentar mais e mais sermos pessoas melhores.

Devemos isso a esses guias que se utilizam de nós para realizar este trabalho. Devemos isso ao consulente que vai buscar consolo para suas dores em nossa casa, confiando e amando. Devemos isso a esta religião que nos acolhe de braços abertos.

O médium de Umbanda tem que estar sintonizado com os ensinamentos dos guias que ele incorpora. Não é sem motivo que seu corpo se faz templo para a passagem dessas entidades de tamanha iluminação. O médium deve ser um livro onde os ensinamentos ficam registrados e a forma de lermos todos esse saber se faz nas obras que esse médium constrói e no exemplo que ele se torna aos outros.

Ser médium não é só sentar no toco e servir de marionete. Ser médium é muito mais que isso. Quem aprende a ser um verdadeiro médium se torna um verdadeiro umbandista e um verdadeiro cristão. Ser médium não é um dever e sim uma oportunidade. Só quem é médium de verdade sabe da dádiva que é estar neste contexto. Estamos sentados no “camarote vip” da espiritualidade, bebendo a água mais cristalina nessa fonte antes de todos.

Então, meus irmãos, abracem essa oportunidade com todo amor e dedicação para que todos saibam a satisfação e a honra que é estar neste lugar privilegiado.

Por: Marco Farnezi

quarta-feira, 20 de junho de 2018

Comércio Religioso e Ideias Erradas



Cabe-nos algumas reflexões a respeito da maneira como os pais e mães de terreiro estão conduzindo os seus adeptos para olharem a fé e a espiritualidade, porque, infelizmente, o comércio religioso ainda é muito forte nas religiões afro-brasileiras, onde preponderam o ganho fácil, e apesar de não termos o conceito judaico-cristão do pecado, a figura do mal e do castigo ainda tem espaço na representação das forças da natureza que denominamos Orixás, Voduns e Inkinces.  
Quero tratar hoje de um assunto polêmico e de uma filosofia errada, que ainda em pleno Séc. XXI, prepondera completamente distorcida, passada de geração em geração nas muitas roças e terreiros de Candomblé, mas que também influencia a Umbanda, e que muitos filhos-de-santo e adeptos não tem o hábito de questionar, de refletir, de criticar (no bom sentido) a fim de buscarem um entendimento mais profundo sobre essas questões.
Falemos dos inimigos internos que prejudicam e destroem a religião de dentro pra fora.
Nós praticantes da Umbanda e do Candomblé cultuamos as Forças da Natureza que, para o yorubá, se chama Orixá. Na visão yorubá tratam-se de deuses (sendo alguns, ancestrais divinizados, no dizer de Pierre Fatumbi Verger) e na visão umbandista são Forças da Natureza ou Vibrações Cósmicas que emanam do Criador, se manifestando do Cosmos incriado e abstrato, para dar e sustentar a vida no plano das formas.
Como considerar que quem sustenta a vida se compraz em tirá-la ou maltratá-la?
Trato aqui, pois, da ideia absurda de quê se fulano não se iniciar para o Orixá, será morto ou sicrano está com a vida parada porque não toma as obrigações, não cuida do seu Orixáou beltrano está doente porque o Orixá está lhe castigando, dentre outras ideias que não reforçam a visão de uma divindade amorosa e compassiva, apenas fortalecendo a propaganda evangélicacontra as religiões afrodescendentes.
Infelizmente na Umbanda a conversa, em alguns terreiros, não é muito diferente, não! Porque o que mais ouvimos dizer é tem demanda feita contra fulano, se beltrano não desenvolver a sua mediunidade, continuará doente ou sicrano está levando surra do preto velho, do caboclo ou do exu tal ...
Se a Umbanda e o Candomblé são religiões voltadas ao mal por que contam milhares de adeptos? Na verdade, os discursos que citei não são usados por pessoas de bem, por sacerdotes e sacerdotisas verdadeiramente comprometidos com a sua religião, e sim com charlatães, com oportunistas, com mentirosos, com falsos sacerdotes.
Qual será o interesse por detrás de um discurso como esse, se não o de explorar a pessoa e subjugá-la através do medo, arrancando dela uma boa soma em dinheiro?
Afinal de contas, as iniciações, obrigações, sacudimentos, boris, trabalhos, homenagens e entregas, tanto no Candomblé como na Umbanda, costumam ser custeadas pelos filhos-de-fé, que pagam a mão do sacerdote, a qual, na grande maioria das vezes, não costuma ser barato.
Precisamos ter muito cuidado com as pessoas que adotam essas filosofias, principalmente quando procuramos alguém para cuidar do nosso espiritual, sendo que o comércio religioso é muito grande.
É claro que não pretendo generalizar a questão porque existem muitos pais e mães-de-terreiro, tanto na Umbanda como no Candomblé, que fazem um trabalho sério e digno.
Naturalmente que alguns tipos de trabalhos tem as suas despesas, dado os elementos materiais que são comprados para ser usados nos ritos, mas, desde que não se torne algo abusivo, que extrapole o bom senso, é fato comum, uma realidade vivenciada e normal para o povo-de-santo.
Precisamos nos precaver, porém, dos estelionatários espirituais, mesmo sabendo (especialmente no Candomblé) que as coisas usadas às vezes são caras, por se tratar de elementos africanos, importados, é indispensável estarmos atentos quanto aos excessos, ao luxo excessivo, às vaidades... Porque também existem aqueles que pensam que o Orixá me dará, em prosperidade, aquilo tudo que eu lhe der e muitas vezes gastam o que não tem, buscando comprar as melhores porcelanas para montar os igbás, roupas (de pano africano, de rechilieu) e paramentas (cromadas, banhadas a ouro ou prata), uma quantidade maior de animais para o sacrifício, enfim, todo um excesso dispensável e que não reflete a essência natural do Candomblé, que é, justamente, a humildade e a simplicidade, por tratar-se de uma religião tribal, ancestral, natural.
Enfim, precisamos ter cautela e raciocinar quanto a essas filosofias erradas que tem se propagado e também influenciam demais a Umbanda, talvez porque muitos iniciados no Candomblé são adeptos das práticas mediúnicas umbandistas, ou seja, tocam a sua umbanda, como se diz popularmente, que quer dizer: trabalham com pretos velhos, exus, caboclos, boiadeiros, em giras semanais em seus barracões, num culto misto; seja porque muitos adeptos da Umbanda tem grande interesse pelas coisas do Candomblé...
O Orixá nos ama a todos e não deve ser considerado, nunca, a causa dos nossos problemas.
Os Guias Espirituais nos amam a todos e zelam pela nossa evolução espiritual, não devendo ser considerados seres que nos cobram, que nos maltratam, que nos prejudicam (o nome disso é espírito obsessor, kiumba).
Não é possível e também não tenho a pretensão de esgotar o assunto ou dar um ponto final nesse tópico, porque, ainda há muitas outras reflexões a serem feitas, a qual, futuramente, retomarei em outros textos, porque um assunto puxa o outro, porém, a nossa necessidade de refletir, de não aceitar as coisas sem um julgamento mais criterioso é urgente!
A nossa fé e a nossa religião será o que nós fizermos delas... Pensemos nisso, tomemos o devido cuidado, questionemos e busquemos a reflexão cautelosa ante algumas questões, para não cairmos em desequilíbrio.

Eloy Augusto. SP.
20/06/18. 21:48.

Banalização da Umbanda e o valor da corrente mediúnica, por Eloy Augusto



Léon Denis tem uma frase que é “o Espiritismo será o que os homens fizerem dele” e acredito que o mesmo valha para as demais religiões, especialmente para a Umbanda, pelo seu caráter de intercâmbio com o Além através da mediunidade, desde o seu início em 1908.
Antigamente a Umbanda era aprendida de boca a boca, no solo sagrado do terreiro, através da oralidade.
Antigamente se ensinava Umbanda pela palavra vigorosa do Caboclo, pelas mirongas do Preto Velho, pelas mandigas do Baiano, pelos ensinamentos do Exu...
Com o tempo foi-se escrevendo livros. E dos livros passaram-se para os cursos e com a era da informática, da tecnologia, começaram a se espalhar os “cursos online” de Umbanda...
“Umbanda é coisa séria para gente séria” – já dizia o Caboclo Mirim e médiuns sérios, comprometidos, está em falta...
Penso que no meio de tanta informação tem faltado bastante a filtragem por parte de muitos... Ou seja, é muito conhecimento na teoria e pouca experiência na prática, o que afeta no discernir de certas práticas e “verdades”...
Muitas pessoas hoje em dia tem acesso aos livros e a esses “cursos”, onde se aprende de tudo – desde a firmar uma vela pro anjo de guarda até às firmezas da tronqueira e do congá... “Cursos” que somente não ensinam como é ter, verdadeiramente, mediunidade ostensiva de trabalho na Umbanda, rs.
“Cursos” que ensinam um monte de coisas que deveriam (e devem!) ser aprendidas através da vivência mediúnica com os Guias Espirituais incorporados, nos trabalhos mediúnicos de um Templo, com a direção experimentada de um “Pai de Santhé” para orientar o neófito em seu aprendizado, conduzindo-o em sua “iniciação mediúnica”, que se dá ano após ano de trabalho ininterrupto na corrente de caridade...
Umbanda não se aprende da noite pro dia ou em poucas horas de “cursos online”...
Penso que todo conhecimento teórico tem o seu valor e sempre digo que o médium precisa estudar, que tem que acabar essa ideia horrível de que “o meu Guia faz tudo!”... Só que o conhecimento teórico para ser bem aproveitado precisa da experiência, da provação, da prática, dos testemunhos de fé...
Não apoio, de forma alguma, a dependência do indivíduo para com o seu sacerdote, mas tem coisas que, de fato, fogem dessa questão (a qual, aliás, não estou tratando).
Cada vez mais as pessoas querem ser “pais e mães de terreiro”, querem ostentar títulos ilusórios de “mago x” ou “iniciado z”, mas não querem ser filhos, não querem esperar a sua hora, não querem o aprendizado proporcionado por cada gira, não querem, enfim, ter humildade...
Hoje em dia em muitos terreiros o que há, de fato, é um palco para o ego de gente perturbada e profundamente necessitada de tratamento espiritual, psiquiátrico e psicológico!
As pessoas estão muito apressadas e a vulgarização da Umbanda, a vulgarização da Mediunidade, tristemente, tem levado muitas pessoas completamente despreparadas, cheias de um conhecimento teórico, de um pretenso “saber iniciático”, a abrir tendas e terreiros (ou a atenderem em casa), sem possuírem um real compromisso mediúnico e uma verdadeira cobertura do Astral Superior, desequilibrando inúmeras pessoas e a si mesmas, “desenvolvendo” uma mediunidade, muitas vezes, inexistente...
Os “cursos de sacerdócio”, no meu ver, são uma verdadeira aberração, porque visa preparar, indiscriminadamente, qualquer pessoa, qualquer curioso, para se tornar “pai ou mãe de terreiro”. Triste desserviço feito a Umbanda! Cegos que guiam cegos rumo ao abismo!
Muitas pessoas não querem se vincular a um terreiro umbandista, não querem se submeter a regras, ter ou orientação, afinal de contas, tudo isso dá muito trabalho, não lhes enaltece a vaidade, não é mesmo?!
Tantos “cursos” que vemos pela internet a fora, tantos vídeos que “ensinam” como fazer isso ou aquilo, e o básico do básico, a pessoa desconhece... Não tem preparo, não tem vivência, não tem discernimento...
Levar conhecimento é uma coisa e acho completamente louvável.
Agora enganar trouxas (me desculpem, mas a palavra é essa e tem muita gente que se engana porque quer!), com “cursos” pagos, presenciais ou onlines, é cair nas malhas da obsessão e do fanatismo, da perturbação e da mistificação!
O valor da corrente mediúnica, dos médiuns agrupados em torno de um sacerdote, com o ideal de crescimento espiritual, de caridade desinteressada, de estudo, é de um valor inestimável nesses tempos de vulgaridade, de banalização do sagrado...
Que a Umbanda possa resgatar a sua simplicidade em comunhão com o estudo sério e com a disciplina, onde as pessoas aprendam sim, estudem com certeza!, mas não se esqueçam de que a mediunidade é para ser exercida dentro do terreiro, onde há toda a segurança energética e o amparo de outros indivíduos, onde para cada um tem o seu momento e a sua hora...

Eloy Augusto.
SP. 20/06/18.

terça-feira, 19 de junho de 2018

Reflexões no momento de crise, por Eloy Augusto

Texto: Reflexões no momento de crise

“A Vida é um constante exercício de fé” – Exu Tranca Rua Das Almas (canalizado pelo médium Eloy Augusto. 14/06/2018).

Num momento de grande chateação e decepção com a parte profissional, esse grande amigo espiritual me trouxe essa colocação profunda e me pede perseverança ante os obstáculos da vida.
O seu pensamento vigoroso trouxera a explanação de que a vida é um constante exercício da fé e que nada é obtido sem sacrifícios ou sem lutas, e realmente, nós que estamos encarnados, às vezes nos deixamos abater por coisas pequenas, mostrando a fragilidade da nossa fé e a pouca convicção que não gostamos de admitir para nós mesmos.
Desde ontem tenho refletido a respeito da importância da fé – não da fé religiosa mas da fé humana, tão bem explicada no Cap. 19 de O Evangelho Segundo o Espiritismo, que quer dizer uma “poderosa alavanca” que “o homem de gênio, que persegue a realização de um grande empreendimento, triunfa se tem fé, porque sente em si mesmo que pode e deve triunfar, e essa certeza íntima lhe dá uma extraordinária força”.
Em outras palavras ter fé é o mesmo que mobilizar a própria vontade e se empenhar na concretização de algo, de onde concluímos que muitos de nós, mesmo com todo pretenso conhecimento espiritual que temos (ou acreditamos ter), ainda estamos distantes de entender, viver e expressar todo o potencial mental, todo o poder da nossa vontade e da nossa fé, deixando-nos perturbar com as aflições da vida material, nos abatendo com a tristeza infrutífera e com o desânimo – isso sem falar no ódio, na revolta, etc.
A você que lê esse texto eu convido a uma reflexão...
Se a vida é feita de altos e baixos, com a sua inconstância natural, por que ainda nos deixamos abalar tanto?
Qual tem sido a visão com que encaramos os fatos, principalmente, os fatos desagradáveis da nossa vida?
Como oportunidades de crescimento, de refazer a nossa rota e de aperfeiçoar nossos planos... Ou como uma praga, um castigo divino, uma maldição que o outro nos lançara?
Precisamos entender a nossa responsabilidade diante da vida e deixar de terceirizar a culpa e assumir que estamos, diariamente, criando a nossa própria vida!
Será que esses momentos de crise, de desemprego, de escassez amorosa, de problemas familiares, de depressão, não são frutos amargos da nossa mente e das ações negativas que tomamos ante a vida?
Nós – que somos espiritualistas, espíritas e umbandistas – acreditamos que o Espírito é imortal, que existe uma vida incessante além da matéria física, que a existência na matéria é muito breve e que estamos todos de passagem...
Ainda assim por que tanto descontentamento?
Por que ainda sofremos tanto com o que é efêmero?
Ter fé, nos momentos difíceis, é também buscar o entendimento do funcionamento das coisas, ou seja, ter uma visão crítica da forma como nós agimos e reagimos ante as coisas que nos acontecem e o quanto deixamos nos abater, e a partir disso, buscarmos mudar aquilo que não está mais dando resultado ou que precisamos corrigir em nós...
De certa forma, na grande maioria das vezes, o real problema não está nas circunstâncias ou nas pessoas, mas na forma com que reagimos à ela, nos prostrando ante as provas, nos revoltando ante as dificuldades, desacreditando de nós mesmos, de Deus e da própria vida.
Será que não é o momento de mudarmos as crenças limitadoras que estamos alimentando? É hora de rompermos os padrões negativos! Ou seja, aquelas crenças ruins que guardamos dentro de nós e que na grande maioria das vezes nos foi incutido por outras pessoas em nosso processo de formação...
Buscamos todos a felicidade mas será que buscamos no lugar correto?
Ou também terceirizamos a felicidade, impondo a pessoas e coisas a responsabilidade de nos fazer felizes?
Até que ponto nos sentimos merecedores da felicidade, da saúde, de bons relacionamentos e de uma vida de qualidade?
Romper com os hábitos infelizes é um desafio que temos a superar, porque, se criamos a nossa realidade através das nossas posturas mentais, será que não precisamos rever, com urgência, os pensamentos que alimentamos diariamente?
Às vezes, ser positivo faz toda a diferença.
Portanto, nos momentos de crise, persista na fé de que essa dificuldade é passageira e dias melhores virão!
Tenha resiliência, seja perseverante! Naturalmente que nenhum milagre acontecerá e que as coisas levam um certo tempo até melhorarem, mas a responsabilidade de termos uma vida boa ou não, é inteiramente nossa.
Afinal de contas, ter é um exercício pra vida toda...

Eloy Augusto. SP. 15/06/18.
(Observei, no transcorrer da escrita desse texto, a inspiração-intuitiva e a linguagem característica do espírito Zarthú, que me conduziu, em alguma medida, no encadeamento de ideias, sendo o texto uma produção em parceria com esse amigo espiritual).

segunda-feira, 18 de junho de 2018

Grupos espíritas, críticas e extravagâncias doutrinárias, por Emmanuel


363 – Como se justifica a existência de certas lutas anti-fraternas dentro dos grupos espiritistas?

Os agrupamentos espiritistas necessitam entender que o seu aparelhamento não pode ser análogo ao das associações propriamente humanas.
Um grêmio espírita-cristão deve ter, mais que tudo, a característica familiar, onde o amor e a simplicidade figurem na manifestação de todos os sentimentos.
Em uma entidade doutrinária, quando surgem as dissensões e lutas internas, revelando partidarismos e hostilidades, é sinal de ausência do Evangelho nos corações, demonstrando-se pelo excesso de material humano e pressagiando o naufrágio das intenções mais generosas.
Nesses núcleos de estudo, nenhuma realização se fará sem fraternidade e humildade legítimas, sendo imprescindível que todos os companheiros entre si, vigiem na boa-vontade e na sinceridade, a fim de não transformarem a excelência do seu patrimônio espiritual numa reprodução dos conventículos católicos, inutilizados pela intriga e pelo fingimento.

364 – O espiritista para evoluir na Doutrina necessita estudar e meditar por si mesmo, ou será suficiente frequentar as organizações doutrinárias, esperando a palavra dos guias?

É indispensável a cada um o esforço próprio no estudo, meditação, cultivo e aplicação da Doutrina, em toda a intimidade de sua vida.
A frequência às sessões ou o fato de presenciar esse ou aquele fenômeno, aceitando-lhe a veracidade, não traduz aquisição de conhecimentos.
Um guia espiritual pode ser um bom amigo, mas nunca poderá desempenhar os vossos deveres próprios, nem vos arrancar das provas e das experiências imprescindíveis à vossa iluminação. 
Daí surge a necessidade de vos preparardes individualmente, na Doutrina, para
viverdes tais experiências com dignidade espiritual, no instante oportuno. 

365 – Como deveremos receber os ataques da crítica?

Os espiritistas devem receber a crítica dos campos de opinião contrária, como
máximo de serenidade moral, reconhecendo-lhe a utilidade essencial.
Essas críticas se apresentam, quase sempre, com finalidade preciosa, qual a de
selecionar, naturalmente as contribuições da propaganda doutrinária, afastando os elementos perturbadores e confusos, e valorizando a cooperação legítima e sincera, porque todo ataque à verdade pura serve apenas para destacar e exaltar essa mesma verdade.

366 – Como deverá agir o espírita sincero, quando encontre perante certas
extravagâncias doutrinárias?

À luz da fraternidade pura, jamais neguemos o concurso da boa palavra e da contribuição direta, sempre que oportuno, em benefício do esclarecimento de todos, guardando, todavia, o cuidado de nunca transigir com os verdadeiros princípios evangélicos, sem, contudo ferir os sentimentos das pessoas. E se as pessoas perseverarem na incompreensão, cuide cada trabalhador da sua tarefa, porque Jesus afirmou que o trigo cresceria ao lado do joio, em sua seara santa, mas Ele, o Cultivador da Verdade Divina, saberia escolher o bom grão na época da ceifa. 

LIVRO: O CONSOLADOR. FRANCISCO CÂNDIDO XAVIER/EMMANUEL.
*Grifos do Blog.

sábado, 16 de junho de 2018

O Espiritismo e a Fé raciocinada, por Emmanuel


352 – Devemos reconhecer no Espiritismo o Cristianismo Redivivo? 

O Espiritismo evangélico é o Consolador prometido por Jesus, que, pela voz dos seres redimidos, espalham as luzes divinas por toda a Terra, restabelecendo a verdade e levantando o véu que cobre os ensinamentos na sua feição de Cristianismo redivivo, a fim de que os homens despertem para a era grandiosa da compreensão espiritual com o Cristo. 

353 – O espiritismo veio ao mundo para substituir as outras crenças? 

O Consolador, como Jesus, terá de afirmar igualmente: - “Eu não vim destruir a Lei”. 
O Espiritismo não pode guardar a pretensão de exterminar as outras crenças, parcelas da verdade que a sua doutrina representa, mas, sim, trabalhar para transforma-las, elevando-lhes as concepções antigas para o clarão da verdade imoralista. 
A missão do Consolador tem que se verificar junto das almas e não ao lado das gloríolas efêmeras dos triunfos materiais. Esclarecendo o erro religioso, onde quer que se encontre, e revelando a verdadeira luz, pelos atos e pelos ensinamentos, o espiritista sincero, enriquecendo os valores da fé, representa o operário da regeneração do Templo do Senhor, onde os homens se agrupam em vários departamentos, ante altares diversos, mas onde existe um só Mestre, que é Jesus Cristo. 

354 – Poder-se-á definir o que é ter fé?

Ter fé é guardar no coração a luminosa certeza em Deus, certeza que ultrapassou o âmbito da crença religiosa, fazendo o coração repousar numa energia constante de realização divina da personalidade. 
Conseguir a fé é alcançar a possibilidade de não mais dizer “eu creio”, mas afirmar “eu sei”, com todos os valores da razão tocados pela luz do sentimento. Essa fé não pode estagnar em nenhuma circunstância da vida e sabe trabalhar sempre, intensificando a amplitude de sua iluminação, pela dor ou pela responsabilidade, pelo esforço e pelo dever cumprido. 
Traduzindo a certeza na assistência de Deus, ela exprime a confiança que sabe enfrentar todas as lutas e problemas, com a luz divina no coração, e significa a humildade redentora que edifica no íntimo do espírito a disposição sincera do discípulo, relativamente ao “faça-se no escravo a vontade do Senhor”. 

355 – Será fé acreditar sem raciocínio? 

Acreditar é uma expressão de crença, dentro da qual os legítimos valores da fé em si mesma. Admitir as afirmativas mais estranhas, sem um exame minucioso, é caminhar para o desfiladeiro do absurdo, onde os fantasmas dogmáticos conduzem as criaturas a todos os despautérios. Mas também interferir nos problemas essenciais da vida, sem que a razão esteja iluminada pelo sentimento, é buscar o mesmo declive onde os fantasmas impiedosos da negação conduzem as almas a muitos crimes. 

356 – A dúvida racionada, no coração sincero, é uma base para a fé? 

Toda dúvida que se manifesta na alma cheia de boa-vontade, que não se precipita em definições apriorísticas dentro de sua sinceridade, ou que não busca a malícia para contribuir em suas cogitações, é um elemento benéfico para a alma, na marcha da inteligência e do coração rumo à luz sublimada da fé. 

LIVRO: O CONSOLADOR. FRANCISCO CÂNDIDO XAVIER/EMMANUEL.
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O Perdão e a natureza do ódio, por Emmanuel


336 – O culpado arrependido pode receber da justiça divina o direito de não passar por determinadas provas? 

A oportunidade de resgatar a culpa já constitui em si mesma, um ato de misericórdia divina, e, daí, o considerarmos o trabalho e o esforço próprio como a luz maravilhosa da vida. 
Entendendo, todavia, a questão à generalidade das provas; devemos concluir ainda, com o ensinamento de Jesus, que “o amor cobre a multidão dos pecados”, traçando a linha reta da vida para as criaturas e representando a única força que anula as exigências da lei de talião, dentro do Universo infinito. 

339 – Em se falando de perdão, poderemos ser esclarecidos quanto à natureza do ódio? 

O ódio pode traduzir-se nas chamadas aversões instintivas, dentro das quais há muito de animalidade, que cada homem alijará de si, com os valores da auto educação, a fim de que o seu entendimento seja elevado a uma condição superior. 
Todavia, na maior parte das vezes, o ódio é o gérmen do amor que foi sufocado e desvirtuado por um coração sem Evangelho. As grandes expressões afetivas convertidas nas paixões desorientadas, sem compreensão legítima do amor sublime, incendeiam-se no íntimo, por vezes, no instante das tempestades morais da vida, deixando atrás de si as expressões amargas do ódio, como carvões que enegrecem a alma. 
Só a evangelização do homem espiritual poderá conduzir as criaturas a um plano superior de compreensão, de modo a que jamais as energias afetivas se convertam em forças destruidoras do coração. 

340 – Perdão e esquecimento devem significar a mesma coisa? 

Para a convenção do mundo, o perdão significa renunciar à vingança, sem que o ofendido precise olvidar plenamente a falta do seu irmão; entretanto, para o espírito evangelizado, perdão e esquecimento devem caminhar juntos, embora prevaleça para todos os instantes da existência a necessidade de oração e vigilância. 
Aliás, a própria lei da reencarnação nos ensina que só o esquecimento do passado pode preparar a alvorada da redenção. 

LIVRO: O CONSOLADOR. FRANCISCO CÂNDIDO XAVIER/EMMANUEL.
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O Perdão, por Emmanuel


332 – Perdoar e não perdoar significa absolver e condenar?

Nas mais expressivas lições de Jesus, não existem, propriamente as condenações implícitas ao sofrimento eterno, como quiseram os inventores de um inferno mitológico.
Os ensinos evangélicos referem-se ao perdão ou à sua ausência.
Que se faz ao mal devedor a quem já se tolerou muitas vezes? Não havendo mais solução para as dívidas que se multiplicam, esse homem é obrigado a pagar. 
É que se verifica com as almas humanas, cujos débitos, no tribunal da justiça divina, são resgatados nas reencarnações, de cujo círculo vicioso poderão afastar-se, cedo ou tarde, pelo esforço no trabalho e boa-vontade no pagamento. 

333 – Na lei divina, há perdão sem arrependimento? 

A lei divina é uma só, isto é, a do amor que abrange todas as coisas e todas as criaturas do Universo ilimitado. 
A concessão paternal de Deus, no que se refere à reencarnação para a sagrada oportunidade de uma nova experiência, já significa, em si, o perdão ou a magnanimidade da Lei. Todavia, essa oportunidade só é concedida quando o Espírito deseja regenerar-se e renovar seus valores íntimos pelo esforço nos trabalhos santificantes. 
Eis por que a boa-vontade de cada um é sempre o arrependimento que a Providência Divina aproveita em favor do aperfeiçoamento individual e coletivo, na marcha dos seres para as culminâncias da evolução espiritual. 

334 – Antes de perdoarmos a alguém, é conveniente o esclarecimento do erro?

Quem perdoa sinceramente, fá-lo sem condições e olvida a falta no mais íntimo do coração; todavia, a boa palavra é sempre útil e a ponderação fraterna é sempre um elemento de luz, clarificando o caminho das almas. 

335 – Quando alguém perdoa, deverá mostrar a superioridade de seus sentimentos para que o culpado seja levado a arrepender-se da falta cometida?

O perdão sincero é filho espontâneo do amor e, como tal, não exige reconhecimento de qualquer natureza. 

LIVRO: O CONSOLADOR. FRANCISCO CÂNDIDO XAVIER/EMMANUEL.
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