segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

Melindre, por Eloy Augusto

O melindre, ou seja, a capacidade de magoar-se e ofender-se com facilidade, é fruto de imaturidade emocional, mas, principalmente, do egoísmo que alimentamos dentro de nós mesmos, acreditando que as pessoas de nosso convívio são obrigadas a satisfazer-nos as vontades e os desejos.

Todos nós, sem exceção, somos egoístas.

Há, porém, pessoas desequilibradas e infelizes, que, buscando fugir de si mesmas, na tentativa de demonstrarem algo que não o são, passam a vivenciar uma personagem que não condiz com sua realidade íntima e, erigindo uma máscara de comportamento, acabam adotando posturas santificadas falsas, acabando por se perderem nos labirintos da própria consciência, porque vivem um profundo conflito interno entre aquilo que são e sentem, e aquilo que demonstram aos outros. Invariavelmente, quem procede dessa forma, está em desequilíbrio psíquico, emocional e comportamental.

Comportamento muito comum nos indizíveis setores da sociedade, especialmente no meio religioso e político, são as máscaras e a negação dos próprios sentimentos que nos leva a um quadro de profunda insatisfação e desajuste íntimo, podendo, em certos casos, nos chafurdar na depressão.

E, compreendendo esses problemas internos, passamos a ver que o melindre representa a fragilidade de conceitos que o indivíduo apresente sobre si mesmo, sobre os outros ou sobre a vida. O melindre é um alerta de quê a pessoa tem dificuldade de se expressar, de lidar com a realidade e quê está com seus alicerces emocionais, abalados em sua estrutura, ou seja, ela não tem convicção das coisas que ela deveria ter – e assim, apresenta-se frágil à opinião alheia e age, muitas vezes, ao reverso de disso tudo: são pessoas autoritárias, às vezes brigonas, que, donas da razão ou de uma situação, são sistemáticas, engessadas em seus conceitos e manipuladoras. Expressam-se como se sua opinião encerrasse o assunto e costumam fazer as pessoas se sentirem mal.

Isso é apenas um disfarce, uma camuflagem e uma autoafirmação; um recurso de defesa interno. Basta perceber que elas são pessoas melindrosas ao extremo, porque, quando contrariadas em suas vontades, passam a questionar-se a si próprias e é disso que estão fugindo.

Até que ponto nós somos assim? Por que estamos fugindo de nós mesmos?

Se a autoanálise nos liberta, ensinando-nos a lidar de maneira equilibrada com nossos traumas, conflitos e desarranjos emocionais, auxiliando-nos na renovação interior e a adquirir qualidade de vida, o egoísmo e o melindre engessam as nossas capacidades de raciocinar, limitando-nos o pensamento e formatando-nos no egocentrismo doentio e na criação de dispensável máscara psicótica.

De posse dessas informações, meditemos acerca daquilo que está – ou que julgamos estar – desequilibrado em nós mesmos e em nossa vida: olhe para dentro de si e reveja, sem medos, todas as situações de dor que te afligem (desde a sua infância e até o momento atual). Encare, também, as maldades que você cometeu e as pessoas que você prejudicou e perceba que isso é a causa dos seus desajustes, do sono perdido e da sua dor, porque você ainda não se perdoou.

Vamos nos libertar?!

Perdoe a si mesmo. Compreenda-se falho tanto quanto qualquer outra pessoa e entenda que você tem o direito de errar quantas vezes forem necessárias para aprender, mas sem que isso se torne motivo de sua estagnação, sem que isso se torne desculpa para o seu negativismo.

Olhe pra dentro de si. Será que você, que se diz magoado ou ofendido por alguém, não cometeria o mesmo ato que essa pessoa? Se você tivesse a mesma história de vida que ela, as mesmas experiências, dores e forma de raciocinar, será que você não agiria de forma idêntica? Seja sincero com você mesmo! Se dê a chance de encarar uma situação que te fere, sob novos prismas, com o olhar do outro e reconheça que você pode ter errado também.

Raciocinando assim, fica mais fácil de se perdoar e de perdoar ao outro, e vamos, aos poucos, quebrando a nossa própria máscara vitimista, apaziguando os instintos egoístas que alimentamos e deixando de ser melindrosos.

Quer melhorar a qualidade dos seus relacionamentos e da sua vida? Analise a sua própria consciência e indague:

“O quê eu ainda guardo dentro de mim que posso libertar? Qual o peso do comportamento e da opinião das pessoas na minha vida? Por quê?”.

Eloy Augusto.

21/03/2015

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