Supondo-se que algum espírito venha comunicar o mesmo
assunto ou a mesma ideia fundamental por intermédio de quatro médiuns
intuitivos diferentes em temperamento, cultura, inteligência ou condicionamento
psicológico, veremos que cada uma das comunicações mediúnicas também
apresentará um cunho pessoal diferente entre si e próprio de cada médium que a
transmitir, embora ainda continue prevalecendo o seu tema essencial.
Apresentando-vos
um exemplo mais claro, consideremos que certo espírito deseja transmitir por
intermédio de quatro médiuns distintos entre si a seguinte ideia-mater: “uma
casa branca situada à margem da estrada deserta e cercada por um jardim com
muitas flores”. Suponhamos que, para transmitir essa ideia-base, o espírito
comunicante disponha dos seguintes médiuns intuitivos, de cultura e
condicionamento diversos em suas vidas, ou seja, um engenheiro, um poeta, um
filósofo e, por último, um simples sertanejo, incapaz de qualquer exposição
científica ou literária nos seus comunicados mediúnicos.
Sem qualquer
dúvida, o assunto a ser ventilado através desses quatro médiuns tão diversos
entre si, tanto na cultura como em sua formação psicológica, também há de
variar em sua exposição conforme sejam o intelecto e emotividade, o
conhecimento e o temperamento particular de cada um dos médiuns convocados, não
obstante permanecer na sua intimidade a ideia fundamental de uma “casa branca
situada à margem da estrada deserta e cercada por um jardim de flores”.
O médium
engenheiro, disciplinado pela precisão matemática das coisas do seu estudo, há
de comunicar a mensagem mediúnica em linguagem mais técnica, parcimoniosa e
acadêmica. Provavelmente diria assim: “Uma edificação decorada em branco,
localizada à margem direita da estrada e ladeada por um jardim”. Entretanto, o
médium poeta, embora medianeiro do mesmo assunto, haveria de descrevê-la com
seu estro inspirado e na seguinte forma: “Era uma vivenda lirial, orlando
faceiramente a estrada tranquila sob a doce quietude da tarde serena, qual
pomba gárrula pousada no seio de verdejante ninho atapetado de flores”.
O médium
filósofo, por sua vez, sob a atuação da mesma ideia comunicada pelo espírito
desencarnado, graças ao seu treino especulativo e à facilidade de elucubração
mental, deveria se expressar assim: “Era uma residência pintada de branco,
junto à estrada empoeirada, à semelhança de pensativa e solitária criatura
meditando sobre o destino das coisas e dos seres; em torno, florido jardim, sob
a orgia das cores, era dadivosa compensação àquele destino ignorado”.
Finalmente, esse mesmo assunto, já ventilado pelos três médiuns intuitivos
anteriores, cada um impregnando-o pessoalmente com a sua cultura, temperamento
e individualidade, ao ser transmitido pelo quarto médium, o modesto sertanejo,
provavelmente seria expresso da seguinte forma: “Era uma casa caiada de branco,
fincada na beira da estrada e rodeada de um jardim plantado de flores”. A sua
exposição, portanto, seria destituída da feição acadêmica da do engenheiro, sem
a literatice do poeta e a conjectura do filósofo, em linguagem simples e até
empobrecendo a ideia fundamental do espírito desencarnado.
No exemplo que
vos expusemos, cada médium transmite a
mesma ideia-mater, vestindo-a conforme a sua capacidade intelectiva, o seu
gosto pessoal e talento, embora evidenciando sempre que o assunto básico é
a descrição de uma “casa branca junto à estrada e cercada por um jardim de
flores”. Eis, porque, então, variam as
diversas manifestações da mediunidade intuitiva, cujo êxito depende muitíssimo
do conhecimento, da fluência da linguagem, da pureza lexicológica¹ e do talento
literário ou acadêmico que o médium já tiver consolidado.
*Grifos do Blog
¹ - Lexicologia (ramo da linguística
que faz o estudo científico do acervo das palavras de um idioma, sob diversos
aspectos).
RAMATÍS. Livro
MEDIUNISMO. HERCÍLIO MAES. EDITORA DO CONHECIMENTO.
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