quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

Médium intuitivo e o animismo por Ramatís - 3

Supondo-se que algum espírito venha comunicar o mesmo assunto ou a mesma ideia fundamental por intermédio de quatro médiuns intuitivos diferentes em temperamento, cultura, inteligência ou condicionamento psicológico, veremos que cada uma das comunicações mediúnicas também apresentará um cunho pessoal diferente entre si e próprio de cada médium que a transmitir, embora ainda continue prevalecendo o seu tema essencial.

Apresentando-vos um exemplo mais claro, consideremos que certo espírito deseja transmitir por intermédio de quatro médiuns distintos entre si a seguinte ideia-mater: “uma casa branca situada à margem da estrada deserta e cercada por um jardim com muitas flores”. Suponhamos que, para transmitir essa ideia-base, o espírito comunicante disponha dos seguintes médiuns intuitivos, de cultura e condicionamento diversos em suas vidas, ou seja, um engenheiro, um poeta, um filósofo e, por último, um simples sertanejo, incapaz de qualquer exposição científica ou literária nos seus comunicados mediúnicos.

Sem qualquer dúvida, o assunto a ser ventilado através desses quatro médiuns tão diversos entre si, tanto na cultura como em sua formação psicológica, também há de variar em sua exposição conforme sejam o intelecto e emotividade, o conhecimento e o temperamento particular de cada um dos médiuns convocados, não obstante permanecer na sua intimidade a ideia fundamental de uma “casa branca situada à margem da estrada deserta e cercada por um jardim de flores”.

O médium engenheiro, disciplinado pela precisão matemática das coisas do seu estudo, há de comunicar a mensagem mediúnica em linguagem mais técnica, parcimoniosa e acadêmica. Provavelmente diria assim: “Uma edificação decorada em branco, localizada à margem direita da estrada e ladeada por um jardim”. Entretanto, o médium poeta, embora medianeiro do mesmo assunto, haveria de descrevê-la com seu estro inspirado e na seguinte forma: “Era uma vivenda lirial, orlando faceiramente a estrada tranquila sob a doce quietude da tarde serena, qual pomba gárrula pousada no seio de verdejante ninho atapetado de flores”.

O médium filósofo, por sua vez, sob a atuação da mesma ideia comunicada pelo espírito desencarnado, graças ao seu treino especulativo e à facilidade de elucubração mental, deveria se expressar assim: “Era uma residência pintada de branco, junto à estrada empoeirada, à semelhança de pensativa e solitária criatura meditando sobre o destino das coisas e dos seres; em torno, florido jardim, sob a orgia das cores, era dadivosa compensação àquele destino ignorado”. Finalmente, esse mesmo assunto, já ventilado pelos três médiuns intuitivos anteriores, cada um impregnando-o pessoalmente com a sua cultura, temperamento e individualidade, ao ser transmitido pelo quarto médium, o modesto sertanejo, provavelmente seria expresso da seguinte forma: “Era uma casa caiada de branco, fincada na beira da estrada e rodeada de um jardim plantado de flores”. A sua exposição, portanto, seria destituída da feição acadêmica da do engenheiro, sem a literatice do poeta e a conjectura do filósofo, em linguagem simples e até empobrecendo a ideia fundamental do espírito desencarnado.

No exemplo que vos expusemos, cada médium transmite a mesma ideia-mater, vestindo-a conforme a sua capacidade intelectiva, o seu gosto pessoal e talento, embora evidenciando sempre que o assunto básico é a descrição de uma “casa branca junto à estrada e cercada por um jardim de flores”. Eis, porque, então, variam as diversas manifestações da mediunidade intuitiva, cujo êxito depende muitíssimo do conhecimento, da fluência da linguagem, da pureza lexicológica¹ e do talento literário ou acadêmico que o médium já tiver consolidado.

*Grifos do Blog
¹ - Lexicologia (ramo da linguística que faz o estudo científico do acervo das palavras de um idioma, sob diversos aspectos).


RAMATÍS. Livro MEDIUNISMO. HERCÍLIO MAES. EDITORA DO CONHECIMENTO.

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