No estudo de hoje, objetivamos tratar da relação entre certos tipos de minerais e a energia dos Orixás, uma vez que essas pedras são utilizadas em variadas atividades: nos tratamentos espirituais na Umbanda, terapias reikianas e holísticas. Pautamos, assim, as nossas considerações, em nossa vivência mediúnica e no fruto de estudos e reflexões acerca do emprego dessas pedras, sem o desejo de esgotarmos o assunto ou sermos um ponto-final para o mesmo. Portanto, ao falarmos do emprego desses minerais, remontamos às civilizações da Antiguidade, desde o Egito, a Índia e a Grécia, onde determinadas pedras atendiam às funções mágico-religiosas desses (e outros) povos, empregadas em cerimonias religiosas, com estrutura rito-litúrgica variada, com fins de purificação, consagração ou iniciação, servindo na confecção de amuletos, altares ou assentamentos, onde, após o processo de magnetização e ativação de seu potencial energético, desempenhavam funções específicas, passando a atuar nas estruturas física, etérica, astralina, mental e emocional. E ainda hoje, assim o é.
Os minerais, num geral, possuem propriedades energéticas variadas e eficazes para tratamentos diversos, dado seu alto potencial curativo, atuando nos órgãos do corpo físico, nas energias do duplo etérico, nos chacras do perispírito, na aura humana, nas emoções e no fluxo dos pensamentos. E, por suas características energéticas, seu emprego em certos tratamentos e sua ligação com determinados chacras ou órgãos, associa-se a força dos Orixás, devido aos seus elementos formadores e o sentido na qual são capazes de trabalhar num indivíduo. Portanto, podemos explicar, por exemplo: que rochas com grande quantidade de ferro em sua composição, como a magnetita e a hematita, são pedras de Ogum; as brancas, capazes de promover a purificação e a limpeza energética, como o quartzo branco, a selenita ou a dolomita, são de Oxalá; as rochas magmáticas, cuja formação tenha, intensamente, o elemento do ar e do fogo, pertencem a Xangô e Iansã, como a calcita laranja, a granada, jaspe ou a ágata de fogo.
Precisamos compreender que o emprego dessas pedras e sua correspondência com determinados Orixás, contudo, não é algo imutável, visto que é passível de interpretações diferentes, de acordo com o entendimento de cada médium, Espírito ou vertente umbandista, esoterista, espiritualista ou religiosa. E, para ilustrar essa questão, vamos citar o exemplo do quartzo-rosa, que coopera nos tratamentos de doenças do sistema sanguíneo, do coração e dos órgãos reprodutivos; no campo psicoemocional, auxilia a melhorar estados depressivos, de ansiedade ou pânico, estimulando o autoperdão e o autoamor. É uma pedra ligada ao chacra cardíaco e, na Umbanda que conheci, é consagrada a Oxum – Orixá que irradia o sentido do Amor Divino na Criação.
Com base nessas informações, propomos o seguinte: no Candomblé, uma das cores consagradas a Oyá-Iansã, é o cor-de-rosa. Já vi certos iniciados dessa Orixá se utilizarem do quartzo-rosa na confecção de seus fios-de-conta, seguindo, pois, o padrão de cores desta religião. Estaria errado isso? De que forma essa pedra seria utilizada, uma vez consagrada para Oyá-Iansã? Muito bem, vamos refletir: na África, de posse das informações do livro Orixás, de Pierre Verger, encontramos que “Oyá é a divindade dos ventos, das tempestades e do rio Níger que, em iorubá, chama-se Odò Oyá”, ou seja, “rio Oyá”, sendo ela, assim, a princípio, uma deidade das águas doces (assim como Oxum, Iyewá, Iemanjá e Obá).
E, além disso, por acaso, mãe Oyá-Iansã não pode irradiar o amor, dentro da Lei? Reflitamos também no caso do “entrecruzamento vibratório” entre ambas as Orixás na Umbanda, onde pode haver mãe Oxum da Lei ou mãe Oyá-Iansã do Amor. Sendo que, no Candomblé, temos uma deidade chamada Ònìrá, cujo culto, no Brasil, mesclou-se ao de Oyá-Iansã: – ela é uma ninfa das águas, uma Orixá guerreira que tem muito fundamento (ou seja, ligação) com Oxum e com Oyá-Iansã, com as nascentes de água doce e com o ar. Assim, é compreensível consagrar-lhe fios-de-conta com quartzo-rosa ou coloca-los na confecção de seus assentamentos, bem como à própria Oyá-Iansã.
Tratamos desse assunto para ilustrar que toda visão absolutista é falha, pois podemos reinterpretar certas questões no meio magístico-religioso (como é o caso da Umbanda e do Candomblé) e o uso desse ou daquele elemento ritual-magístico, oportunizando-nos a expansão da nossa visão e de nossos conceitos.
O que é, afinal, certo ou errado, no emprego desse ou daquele elemento de rito? As interpretações variam e precisamos despertar para a convivência fraterna e tolerante com práticas diferentes daquelas que elegemos como as mais adequadas às nossas consciências, pois, quando nos damos à oportunidade de enxergar com os olhos do outro, também aperfeiçoamos e agregamos na nossa vivência, na nossa forma de praticar e nos nossos conceitos acerca da religião e da Espiritualidade.
Para fortalecer minhas considerações, vou dar outro exemplo dessa diversidade: o chacra frontal é ligado a Iemanjá, mas, na Umbanda que conheci, era regido por Orixá Oxóssi, pois, na visão dessa casa, por ele ser o regente do Trono do Conhecimento e um Orixá expansor do intelecto, melhor enquadrava-se no estímulo desse chacra, enquanto Iemanjá seria regente do chacra básico, uma vez que ela seja regente do Trono da Geração – a capacidade de gerar vida, coisas boas e etc.; ao passo que, na “Umbanda Iniciática Esotérica”, da raiz da Pai Guiné (W.W Da Matta e Silva), o chacra básico é regido por Yorimá; e Oxóssi, o esplênico.
Assim, a pedra turquesa, de acordo com a casa que estudei, era uma pedra azul consagrada à mãe Iemanjá; porém, relaciona-se com o chacra laríngeo (que, na visão dessa casa, era regido por Ogum). No Candomblé, contudo, as cores consagradas ao Orixá Oxóssi são os tons de azul claro, como o turquesa, sendo muito comum a confecção de fios-de-conta para esse Orixá, com essa pedra. Estaria de alguma forma, errado? Para essa análise, devemos nos reportar a função e aplicação energética desse mineral que: ligado ao chacra laríngeo atua no corpo físico, no auxílio a doenças respiratórias. No psicoemocional, estimula o mental para ideias otimistas sobre o futuro, pois clareia os pensamentos e o raciocínio, dando novas perspectivas de vida e fortalecendo a memória, a criatividade artística, a inspiração, a boa comunicação e a expressão do indivíduo com o meio em que vive.
E, analisando essas características, vemos que tem tudo haver com a energia irradiada por Oxóssi (expansão), por Iemanjá (enquanto senhora da mente e da cabeça, a Iyá Òrí, ou seja, mãe da cabeça, e também no sentido de ‘geração’) e pelo Orixá Ologun Edé, filho mítico do Orixá Ibualamô. E, uma vez que seja uma pedra do chacra laríngeo, poderíamos atribuí-la, também, a pai Ogum, na sua força criadora! E igualmente à força de Yori, que na Umbanda Iniciática Esotérica, é a linha das Crianças, que tem a regência, igualmente, do laríngeo. O mais legal: vemos que a força irradiada pelas Crianças, na Umbanda, tem tudo haver com os estímulos psicoemocionais dessa pedra, que podemos, igualmente, lhes consagrar.
Assim, após essas análises, que em nada esgotam um tema tão fascinante e amplo, como é a relação dos Orixás com os chacras e com os elementos rito-litúrgicos e magísticos, na diversidade do meio religioso umbandista e afro-brasileiro, finalizamos esse texto, sempre pedindo ao leitor para refletir e para questionar sempre, reconhecendo que toda verdade é relativa e que práticas diferentes das nossas significam interpretações diferentes de um mesmo Sagrado, e não uma forma errada de cultuá-lo.
Finalizo, assim, esse texto, com a célebre frase de Allan Kardec, na Revista Espírita de Setembro de 1866: “Para bem conhecer uma coisa, é preciso tudo ver, tudo aprofundar, comparar todas as opiniões, ouvir os prós e os contras”.
Eloy Augusto. 13/07/2015.
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