quinta-feira, 29 de março de 2018

Manifestação dos Orixás


Resultado de imagem para oyá pierre verger“Há séculos que não existem mais no Brasil cultos africanos puros. Neles, a razão de ser ou a força de seus rituais se firmava na invocação dos Orixás – que é o aspecto fenomenológico, o contato com o sobrenatural – que eram considerados como Espíritos Superiores, “deuses”, Senhores dos Elementos da Natureza, etc., e que nunca passaram pela condição humana. Era Xangô, deus do trovão, do raio; Ogum, deus da guerra, Yemanjá, deusa das águas, etc., que eram agraciados com oferendas diversas e apropriadas. As invocações, digo eu, eram feitas em seus rituais e acreditavam que os Orixás-ancestrais, os ditos como “donos dos elementos”, não podiam “baixar” – incorporar em um médium – chegar ao “reino”, mas mandavam seus enviados, em seus nomes, representando suas forças. Eram os Orixás-intermediários. Ora, “zi-cerô”, pensa bem: quem, eventualmente, podia mesmo “baixar”, levando-se em conta que sempre houve médiuns e mediunidade em toda parte ou em todos os agrupamentos? 
“Eu respondo: - Os seres desencarnados e afins a seus graus de entendimento, ou seja, de atração mental. Quais seriam, então, logicamente, os espíritos que poderiam “baixar” representando os Orixás? Na certa, “zi-cerô”, estás com essa pergunta na ponta da língua, não é mesmo? 
“Bem, por força da lei de atração ou de afinidade, só poderiam, mesmo, “baixar”, os espíritos afins às suas práticas ou ritos. Nesse caso, eram os desencarnados de sua raça – antigos sacerdotes, babalaôs e mesmo espíritos do que foram seus chefes e outros que tivessem condições para se aproximar dizendo-se enviados de Ogum, Xangô, Iansã, Yemanjá, etc., afim de não serem repelidos, caso se identificassem como um desses desencarnados, pois, nos cultos africanos, todos os espíritos considerados como eguns eram e são repelidos. Por eguns, identificam os espíritos dos desencarnados, almas dos antepassados, enfim, todos os que já se tinham ido, ou que passaram pela vida terrena (...)”

Cícero: - Dê licença, meu bom “preto-velho”: dentro dessa explicação, lógica, sensata, pois se firma na lei de afinidades, começo a penetrar cada vez mais na questão. Assim é que tenho assistido em vários “terreiros” os ditos como “pais-de-santo”, receberem, por exemplo, Iansã, que é muito festejada. Eles se paramentam todos quando ela “baixa”, em saias rendadas, colares, etc. Queira repisar mais este ponto. Quem estará mesmo “baixando”? 

Preto-velho: - Foi bom mesmo você ter insistido nesse ângulo. Aí, “zi-cerô”, há dois aspectos a considerar: no primeiro pode ser que o “pai-de-santo” tenha mesmo mediunidade ativa e dê passividade para um espírito feminino que esteja na sua faixa vibratória e afim às suas práticas e rituais. 
Posso assegurar, entretanto, que, na maioria dos casos, o que se passa e está dentro do segundo aspecto é o seguinte: 
Comumente, o dito como “babalaô” ou “pai-de-santo” cria em si uma condição anímica, plasmando em seu campo mental as “qualidades” do Orixá que ele pretende personificar e que, geralmente, é o daquele a quem se devotou.

Trechos do livro Lições de Umbanda e Quimbanda na Palavra de um Preto Velho. W.W. Da Matta e Silva (Mestre Yapacany). Editora Ícone.

*Grifos do Blog.

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